Fraturas do processo ancôneo em cães: como identificar e tratar
- Felipe Garofallo

- 22 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 12 de set.
As fraturas do processo ancôneo representam uma das causas menos comuns, porém relevantes, de claudicação e dor em membros torácicos de cães jovens, especialmente em raças de porte médio a grande.

O processo ancôneo é uma proeminência óssea localizada na porção proximal da ulna, que se articula com a parte caudal do úmero na articulação do cotovelo.
Sua função é essencial para a estabilidade articular, especialmente durante a extensão do cotovelo. A fratura dessa estrutura compromete diretamente a congruência da articulação, gerando dor intensa, inflamação e, em muitos casos, desenvolvimento de osteoartrite secundária.
Embora a forma mais conhecida de acometimento do processo ancôneo seja a não união (UAP – ununited anconeal process), fraturas verdadeiras do processo ancôneo podem ocorrer em decorrência de traumas diretos, como atropelamentos ou quedas.
Esses casos são mais raros que a UAP, mas exigem abordagem diagnóstica e terapêutica criteriosa. A apresentação clínica pode incluir claudicação súbita de um dos membros anteriores, relutância em apoiar o membro, dor à manipulação do cotovelo e efusão articular.
À palpação, o animal pode reagir com vocalização ou tentativa de morder, especialmente em extensão forçada da articulação. O diagnóstico definitivo exige exames de imagem.
As radiografias laterais do cotovelo, com o membro em flexão de 45°, geralmente são suficientes para evidenciar a fratura do processo ancôneo.
Em alguns casos, a tomografia computadorizada pode ser indicada para melhor avaliação da localização do fragmento e do grau de envolvimento articular, além de auxiliar no planejamento cirúrgico.
É importante diferenciar uma fratura recente de uma não união crônica, especialmente em cães jovens de raças predispostas, como Pastor Alemão, Basset Hound, Labrador Retriever e São Bernardo.
O tratamento depende do tempo de evolução e do grau de instabilidade articular. Em fraturas recentes, o ideal é realizar estabilização cirúrgica do fragmento com uso de parafuso cortical, ancorando o processo ancôneo à diáfise da ulna.
Essa técnica visa promover a osteossíntese anatômica e restaurar a função articular. Nos casos em que o fragmento encontra-se muito pequeno, cominutivo ou em necrose, pode ser necessário realizar a excisão do processo ancôneo, embora essa abordagem possa comprometer a estabilidade do cotovelo a longo prazo e aumentar o risco de degeneração articular.
A fisioterapia pós-operatória tem papel essencial na recuperação funcional do membro. O controle da dor, a mobilização articular precoce e o fortalecimento muscular contribuem para evitar atrofias e rigidez.
Em casos mais graves ou nos quais há comprometimento articular irreversível, a artroplastia do cotovelo ou a fusão articular podem ser consideradas como último recurso, embora sejam raramente indicadas em cães com fraturas isoladas do processo ancôneo.
Em suma, a fratura do processo ancôneo em cães é uma condição que exige diagnóstico precoce, planejamento cirúrgico adequado e reabilitação intensiva.
O prognóstico varia de acordo com a idade do animal, o tempo decorrido desde o trauma, o método de estabilização utilizado e o desenvolvimento ou não de artrose secundária.
A intervenção oportuna pode resultar em recuperação funcional completa, especialmente em cães jovens e ativos.
Referências bibliográficas:
FOSSUM, T. W. Small Animal Surgery. 5th ed. Elsevier, 2019.PIERCY, R. J., and DYCE, K. M. Textbook of Veterinary Anatomy. 5th ed. Saunders, 2017.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.