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Fraturas distais de úmero: desafios na ortopedia veterinária

Atualizado: 12 de set.

As fraturas distais de úmero representam um desafio significativo na ortopedia canina, tanto pelo posicionamento anatômico quanto pelas implicações funcionais da articulação do cotovelo.


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Essas fraturas afetam a extremidade inferior do osso úmero, região que se articula com o rádio e a ulna, e onde estruturas nobres, como vasos, nervos e cartilagens articulares, estão intimamente relacionadas.


Devido a essa complexidade anatômica, o manejo cirúrgico dessas lesões requer planejamento detalhado, técnicas avançadas de estabilização e atenção rigorosa ao pós-operatório para garantir o retorno funcional adequado do membro afetado.


Em cães jovens, as fraturas distais do úmero frequentemente envolvem a região do côndilo, sendo muitas vezes do tipo supracondilar ou intercondilar.


Já em cães adultos, o trauma direto de alta energia, como atropelamentos ou quedas de grandes alturas, costuma ser o principal fator causador.


Independentemente da idade, essas fraturas apresentam alto grau de instabilidade mecânica, o que torna o tratamento conservador praticamente inviável na maioria dos casos. A cirurgia se impõe como a melhor alternativa terapêutica, com o objetivo de restaurar a anatomia articular e permitir movimentação precoce para evitar anquilose.


A escolha da técnica cirúrgica depende do tipo de fratura, da presença ou não de cominuição e do tamanho do animal. Fixações com placas bloqueadas (LCP), parafusos de compressão interfragmentar, pinos cruzados e sistemas híbridos são frequentemente empregados.


Em fraturas intercondilares, é essencial o uso de parafuso transcondilar, seguido da reconstrução da metáfise com placas anatômicas. A principal dificuldade nesse tipo de fratura é alcançar a redução anatômica precisa da superfície articular, pois desvios mínimos podem comprometer a biomecânica do cotovelo e gerar degeneração articular precoce.


A visualização cirúrgica adequada, obtida por via lateral, medial ou mesmo olecraniana (osteotomia de olécrano), pode ser necessária para acesso e manipulação eficaz dos fragmentos ósseos.


Outro ponto de atenção é o risco de lesões neurológicas associadas, em especial do nervo radial, que cruza a face lateral do úmero. Lesões iatrogênicas durante a abordagem cirúrgica ou já presentes em decorrência do trauma podem afetar gravemente o prognóstico funcional do membro.


Além disso, o risco de infecção pós-operatória, atraso de consolidação ou não união é considerável, especialmente quando a fratura é exposta ou quando há instabilidade residual. A reabilitação fisioterápica precoce e supervisionada é essencial para prevenir perda de mobilidade e facilitar o retorno às atividades normais.

Apesar de todos os desafios, o prognóstico pode ser favorável quando o tratamento é realizado de forma adequada, com técnicas modernas de osteossíntese e acompanhamento pós-operatório criterioso. O envolvimento de um cirurgião experiente em ortopedia veterinária é determinante para o sucesso da abordagem.


Nos casos em que há falha de tratamento ou complicações graves, procedimentos como artrodeses do cotovelo podem ser considerados como último recurso para preservação do membro, embora resultem em perda funcional importante.

Portanto, as fraturas distais de úmero exigem do ortopedista veterinário não apenas domínio técnico, mas também uma avaliação criteriosa do paciente, dos recursos disponíveis e dos riscos associados. A tomada de decisão deve sempre priorizar o bem-estar do animal, com foco na restauração da função e qualidade de vida a longo prazo.

Referências bibliográficas:


PIERMATTEI, D.L.; FLO, G.L.; DEWEY, C.W. Handbook of Small Animal Orthopedics and Fracture Repair. 4th ed. Saunders, 2006.


JOHNSON, A.L.; HOULTON, J.E.F.; VANNINI, R. AO Principles of Fracture Management in the Dog and Cat. AO Publishing, 2005.


Sobre o autor


Dr. Felipe Garofallo, veterinário ortopedista, especializado no diagnóstico e tratamento de problemas articulares e musculoesqueléticos em cães

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.


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