Forças atuantes nas fraturas de cães

As fraturas em cães são resultado da ação de diferentes tipos de forças mecânicas sobre o tecido ósseo, que ultrapassam sua resistência natural.

O entendimento das forças atuantes nas fraturas é essencial tanto para o diagnóstico quanto para o planejamento cirúrgico e escolha do método de estabilização mais adequado.

O osso, apesar de ser um tecido rígido, possui certa elasticidade e capacidade de absorção de impacto. No entanto, quando as forças aplicadas excedem essa capacidade, ocorre a fratura.

As principais forças mecânicas que atuam sobre os ossos e podem causar ou interferir na consolidação de uma fratura são: compressão, tração, flexão, cisalhamento e torção.

A força de compressão ocorre quando duas forças opostas empurram o osso em direção ao centro.

Quando excessiva, pode gerar fraturas impactadas ou esmagamento, principalmente em ossos trabeculares como os corpos vertebrais ou metáfises longas. Já a tração representa forças que puxam o osso em direções opostas.

É comum em fraturas por avulsão, nas quais músculos ou ligamentos muito tensionados arrancam fragmentos ósseos em seus pontos de inserção, como no caso do olécrano, tuberosidade tibial ou trocânter maior.

A flexão é uma das causas mais frequentes de fraturas diafisárias. Quando um osso é forçado a dobrar-se além de sua elasticidade, ele se rompe geralmente com um padrão transversal ou oblíquo. Já o cisalhamento ocorre quando forças paralelas, porém em sentidos opostos, atuam sobre diferentes pontos do osso, criando fraturas oblíquas ou em "asa de borboleta". Esse tipo de força é comum em fraturas articulares e fraturas com deslizamento de fragmentos.

Por fim, a torção é responsável por fraturas espirais, observadas com frequência em membros longos submetidos a rotação excessiva, como em acidentes em que o membro é preso em movimento, por exemplo, entre ripas de piso ou cercas. A torção também é crítica no planejamento da estabilização, pois certas técnicas são mais eficazes para resistir a ela (como fixadores circulares ou hastes bloqueadas).

Após a ocorrência da fratura, essas mesmas forças continuam atuando sobre o foco fraturário durante o processo de consolidação e devem ser controladas adequadamente para garantir a estabilidade mecânica.

Cada sistema de osteossíntese (como placas, pinos, hastes ou fixadores externos) tem diferentes capacidades de resistir a esses tipos de força. Por isso, o cirurgião deve compreender o padrão da fratura e as forças predominantes para escolher o método de estabilização que neutralize ou compartilhe adequadamente essas cargas.

Além disso, a biomecânica das forças é influenciada pela carga do peso corporal, atividade física, posição da fratura, músculos adjacentes e ângulo articular. Em fraturas em membros posteriores, por exemplo, a carga de apoio e a tensão muscular são determinantes na estabilidade do foco de fratura. Já em fraturas distais ou intra-articulares, o cisalhamento é uma preocupação maior, exigindo precisão anatômica e maior rigidez do implante.

Portanto, a compreensão das forças atuantes nas fraturas é um componente fundamental da ortopedia veterinária. Ela orienta desde a escolha do tratamento conservador ou cirúrgico até a seleção de implantes e definição de protocolos de reabilitação, contribuindo diretamente para a recuperação funcional do animal.

Referências bibliográficas:

Piermattei, D. L., Flo, G. L., & DeCamp, C. E. (2006). Brinker, Piermattei and Flo's Handbook of Small Animal Orthopedics and Fracture Repair. 4th ed. Saunders.

Johnson, A. L., & Hulse, D. A. (2002). Fracture Management in Small Animals. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, 32(4), 889–901.

Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.

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