Fibrose em cães
- Felipe Garofallo
- 29 de jul.
- 2 min de leitura
Atualizado: 12 de set.
A fibrose é um processo patológico caracterizado pela substituição de um tecido normal por tecido conjuntivo fibroso denso, rico em colágeno.

Em cães, a fibrose pode afetar diferentes órgãos e tecidos: músculos, pulmões, fígado, rins, pele e até estruturas articulares, sendo geralmente o resultado de inflamações crônicas, traumas, necrose tecidual ou processos cicatriciais mal resolvidos. Ela representa uma tentativa do organismo de reparar uma lesão, mas quando excessiva ou desorganizada, prejudica a função do órgão ou estrutura afetada.
No sistema musculoesquelético, a fibrose é frequentemente observada como consequência de lesões musculares repetidas, traumas, miosites ou imobilizações prolongadas.
O músculo lesionado, ao invés de se regenerar com fibras musculares funcionais, é invadido por fibroblastos e colágeno, resultando em rigidez, perda de elasticidade e limitação funcional, como ocorre nas contraturas musculares. Um exemplo clínico bastante conhecido é a fibrose dos músculos gracilis e semitendinoso em cães ativos, principalmente pastores alemães, que leva a alteração de marcha típica e progressiva.
Nos pulmões, a fibrose pode ser decorrente de doenças inflamatórias crônicas, como a fibrose pulmonar idiopática, especialmente observada em algumas raças predispostas, como o West Highland White Terrier.
Essa condição leva à substituição do parênquima pulmonar normal por tecido fibroso, causando dificuldade respiratória progressiva, tosse seca, intolerância ao exercício e redução na oxigenação sanguínea. O diagnóstico costuma envolver radiografias torácicas, tomografia e lavado broncoalveolar, e o prognóstico tende a ser reservado.
No fígado, a fibrose é comum em casos de hepatite crônica, intoxicações ou doenças infecciosas, podendo evoluir para cirrose.
A substituição do tecido hepático funcional por fibrose compromete a função metabólica e desintoxicante do fígado, levando a sinais como perda de peso, ascite, icterícia e alterações laboratoriais. O tratamento foca no controle da causa primária, suporte nutricional e uso de antifibróticos, quando disponíveis.
Já na pele, a fibrose pode se manifestar após cirurgias, feridas profundas, queimaduras ou infecções severas, levando à formação de cicatrizes endurecidas, retráteis ou disfuncionais, principalmente se houver comprometimento das articulações adjacentes.
Em qualquer local do corpo, o processo de fibrose compartilha um mesmo princípio: há ativação crônica de fibroblastos, deposição de matriz extracelular e perda da arquitetura e função normais do tecido.
Em geral, a fibrose não é reversível, mas seu avanço pode ser retardado com tratamento precoce da causa base, uso de anti-inflamatórios, fisioterapia (quando musculoesquelética), antioxidantes e estratégias antifibróticas.
Do ponto de vista clínico, é fundamental que o veterinário esteja atento a sinais precoces de rigidez, limitação de movimento, alterações respiratórias, função hepática ou cicatrização anormal, pois a fibrose pode evoluir silenciosamente e se tornar irreversível se não abordada a tempo.
Referências bibliográficas:
Millis, D. L., & Levine, D. (2013). Canine Rehabilitation and Physical Therapy (2nd ed.). Elsevier.
Nelson, R. W., & Couto, C. G. (2019). Small Animal Internal Medicine (6th ed.). Elsevier.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.