Existe um jeito certo de pegar o cachorro no colo?
- Felipe Garofallo
- 20 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 12 de set.
Para muitos tutores, pegar o cachorro no colo é uma demonstração de carinho e proximidade. Seja para colocá-lo na cama, levá-lo ao banho, tirá-lo do chão frio ou simplesmente por afeto, esse ato faz parte da rotina com o pet.

No entanto, o que poucos sabem é que a forma como o cão é erguido pode influenciar diretamente sua saúde musculoesquelética, especialmente se ele já tem predisposição a problemas ortopédicos ou neurológicos. Sim, existe um jeito certo, e também formas erradas de pegar o seu cão no colo. E negligenciar esse detalhe pode causar dor, agravar lesões já existentes ou até gerar novos problemas.
Quando um cão é levantado de forma inadequada, parte do peso do corpo pode ficar concentrada em regiões frágeis, como a coluna lombar, as articulações do quadril ou os joelhos.
Em cães pequenos, é comum que o tutor posicione as mãos sob as axilas, como faria com um bebê, deixando o corpo suspenso e sem apoio posterior. Esse tipo de movimento gera uma tração intensa nas costas, e em animais com tendência à doença do disco intervertebral, por exemplo, pode desencadear uma crise dolorosa súbita.
Já nos cães maiores, há quem tente erguer apenas pela parte traseira ou por baixo da barriga, o que também pode provocar tensão desnecessária em articulações como o quadril ou a região lombossacra.
Cães idosos, com sobrepeso ou que passaram por cirurgias ortopédicas prévias estão ainda mais suscetíveis a esse tipo de trauma, mesmo quando a manipulação parece simples.
O ideal é que o tutor sempre ofereça sustentação uniforme ao cão. Isso significa apoiar tanto a parte anterior quanto a posterior do corpo, distribuindo o peso e evitando que o tronco fique pendurado ou que a coluna seja forçada em excesso.
Em cães de pequeno porte, o mais seguro é posicionar uma das mãos sob o tórax, entre as patas dianteiras, e a outra sob a parte de trás do corpo, como os quadris ou a base da cauda, mantendo o animal junto ao corpo do tutor.
Assim, a coluna permanece alinhada e o animal se sente mais seguro. Já em cães maiores, é recomendável utilizar os braços como alavancas para levantar o cão com apoio nos dois lados, de preferência com ajuda de outra pessoa quando necessário.
Além do aspecto físico, existe também uma questão emocional envolvida. Muitos cães ficam tensos ao serem pegos no colo porque associam isso a desconforto ou insegurança. Isso é comum em animais que já sentiram dor ao serem manipulados, mesmo que apenas uma vez.
Um cão que gritou ao ser erguido pode passar a resistir ao colo futuramente, criando um ciclo de medo e desconforto. Por isso, o manejo adequado desde cedo, feito com delicadeza e estabilidade, ajuda não só a proteger a saúde ortopédica, mas também a fortalecer a confiança entre tutor e pet.
É importante lembrar que nem todos os cães gostam de colo.
Alguns sentem-se vulneráveis fora do chão, especialmente os de porte médio a grande. Respeitar o limite de cada animal também faz parte do cuidado responsável. Em situações em que é necessário erguê-lo, como para subir escadas, colocá-lo em superfícies ou entrar no carro. A manipulação deve ser feita com consciência, técnica e, se possível, com o auxílio de rampas, escadas ou superfícies antiderrapantes.
Se o seu cão demonstrou dor ao ser pego no colo, mesmo que tenha sido uma única vez, não ignore esse sinal. Muitas vezes, essa dor é o primeiro alerta de algo que ainda não se manifestou de forma clara.
Um exame físico detalhado, realizado por um veterinário com experiência em ortopedia, pode identificar alterações na coluna, nas articulações ou na musculatura que expliquem essa sensibilidade. E quanto antes um problema ortopédico é diagnosticado, melhores são as chances de tratamento com menos dor e menor impacto na qualidade de vida.
Referências:
Brisson, B. A. (2010). Intervertebral disc disease in dogs. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, 40(5), 829–858.
Fossum, T. W. (2018). Small Animal Surgery (5th ed.). Elsevier Health Sciences.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.