Existe displasia coxofemoral adquirida em cães?
- Felipe Garofallo

- 28 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 12 de set.
A displasia coxofemoral é uma das doenças ortopédicas mais comuns em cães, especialmente nas raças grandes. Mas será que ela pode ser adquirida ao longo da vida, mesmo sem histórico familiar? Essa é uma dúvida frequente entre tutores que só descobrem a displasia quando o cão já é adulto, ou mesmo idoso.

Neste artigo, vamos esclarecer se a displasia coxofemoral pode ser adquirida e quais fatores ambientais ou de manejo contribuem para o aparecimento dos sintomas.
A displasia coxofemoral é sempre genética?
A resposta mais direta é: sim, a origem da displasia costuma ser genética. Isso significa que o cão já nasce com uma predisposição para desenvolver a má-formação da articulação do quadril.
No entanto, nem todos os cães com predisposição genética apresentam sintomas. É aí que entram os fatores ambientais, que podem acelerar ou agravar o quadro.
Fatores que agravam a displasia coxofemoral
Mesmo quando o cão nasce com a articulação aparentemente normal, certas condições de vida podem favorecer o aparecimento dos sinais clínicos da displasia. Entre os principais fatores estão:
Crescimento muito rápido (especialmente em filhotes de raças grandes);
Alimentação inadequada na fase de desenvolvimento;
Excesso de peso ao longo da vida;
Sedentarismo ou musculatura fraca;
Exercícios de alto impacto em pisos escorregadios;
Castração precoce (antes do fechamento das placas de crescimento);
Traumas ou lesões repetitivas nas articulações.
Esses fatores não causam a displasia do zero, mas podem fazer com que ela se manifeste clinicamente mais cedo ou de forma mais intensa.
Então, meu cão pode adquirir displasia mesmo sem histórico familiar?
Tecnicamente, a displasia não é adquirida do zero. O que acontece é que muitos cães com predisposição genética nunca foram avaliados quando jovens, e só desenvolvem sintomas evidentes depois de meses ou anos.
Além disso, há casos em que problemas articulares degenerativos, como artrose ou luxação crônica, simulam sinais de displasia em cães que nunca tiveram o diagnóstico confirmado na juventude.
Por isso, é comum que tutores acreditem que a displasia “apareceu do nada” na fase adulta — quando, na verdade, ela já estava presente de forma silenciosa ou foi agravada por fatores ambientais.
Como diagnosticar a displasia?
O diagnóstico é feito por meio de avaliação clínica e exames de imagem, como radiografias específicas. Em alguns casos, exames mais avançados como a tomografia podem ser necessários para avaliar a gravidade da displasia ou complicações associadas, como a presença de artrose severa.
A prevenção ainda é o melhor caminho
Apesar da predisposição genética, é possível minimizar os efeitos da displasia com boas práticas desde os primeiros meses de vida:
Forneça uma alimentação balanceada para o crescimento adequado;
Evite pisos escorregadios, pulos em excesso e brincadeiras de alto impacto;
Estimule o fortalecimento muscular com caminhadas regulares e fisioterapia preventiva;
Controle o peso do cão ao longo da vida;
Converse com seu veterinário sobre o momento ideal da castração, especialmente em cães de porte médio e grande.
Conclusão
A displasia coxofemoral não é exatamente adquirida, mas pode sim se manifestar ou piorar ao longo da vida por influência de fatores ambientais. Por isso, mesmo cães que pareciam saudáveis na juventude podem desenvolver dor, claudicação e dificuldade de locomoção com o passar dos anos.
Se você percebeu que seu cão está mancando, evitando subir em móveis ou com dificuldade para se levantar, procure um médico-veterinário ortopedista. O diagnóstico precoce faz toda a diferença na qualidade de vida e no sucesso do tratamento.
Referências bibliográficas:
Morgan, J. P., Bahr, A., & Franti, C. E. (1987). Canine hip dysplasia: A morphologic and radiographic comparison of three breeds. American Journal of Veterinary Research, 48(8), 1290–1295.
Genevois, J. P., Remy, D., Viguier, E., Carozzo, C., Collard, F., Cachon, T., ... & Fau, D. (2008). Prevalence of hip dysplasia according to official radiographic screening, among 31 breeds of dogs in France. Veterinary and Comparative Orthopaedics and Traumatology, 21(1), 21–24.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.