Exercícios para cães que passaram por colocefalectomia
- Felipe Garofallo

- 23 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 28 de set.
Cães que passaram por colocefalectomia, cirurgia em que a cabeça do fêmur é removida precisam de um plano de reabilitação cuidadosamente estruturado para recuperar a mobilidade, fortalecer a musculatura e adaptar a articulação à nova biomecânica.

Como não há mais o encaixe articular formal entre o fêmur e o acetábulo, o organismo cria uma “falsa articulação” (pseudartrose funcional) com tecidos moles que compensam a ausência do contato ósseo direto.
Para isso funcionar bem, é fundamental estimular o uso do membro operado desde os primeiros dias, com exercícios seguros, progressivos e supervisionados.
Nos primeiros dias após a cirurgia, o foco deve estar no alívio da dor, controle da inflamação e manutenção da amplitude de movimento.
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Voltando ao nosso tópico, massagens suaves, compressas mornas (com orientação veterinária) e mobilização passiva do quadril e joelho ajudam a manter a flexibilidade da musculatura e articulações.
A movimentação passiva deve ser feita com o cão em repouso, mantendo o quadril e joelho em movimentos de flexão e extensão controlada, por alguns minutos, duas a três vezes ao dia. Esse cuidado ajuda a evitar contraturas musculares e encurtamento de tendões.
Assim que houver melhora do controle da dor, inicia-se o estímulo à carga ativa, ou seja, ao apoio do membro no chão. Para isso, caminhadas lentas em piso antiderrapante com guia curta são indicadas por períodos curtos, várias vezes ao dia.
Se o cão estiver muito relutante, o uso de panos sob o abdômen para auxiliar o movimento e a reeducação do apoio pode ser necessário. Cada passo dado com o membro operado contribui para o fortalecimento da musculatura glútea e dos músculos posteriores da coxa.
À medida que o cão recupera a confiança e passa a apoiar melhor o membro, os exercícios podem incluir caminhada em superfícies irregulares, como grama ou tatames de borracha, que favorecem a propriocepção e o equilíbrio.
A subida leve de rampas, caminhada em círculos e obstáculos baixos também ajudam no recrutamento muscular e na coordenação. O tempo de exercício deve ser aumentado gradualmente, sempre respeitando os sinais de cansaço, dor ou relutância do animal.
Se disponível, a hidroterapia (caminhada em esteira aquática) é um dos métodos mais eficazes na reabilitação pós-colocefalectomia.
A água reduz o impacto, alivia a dor e permite que o cão movimente o membro com maior amplitude e menor esforço. Sessões supervisionadas com fisioterapeuta veterinário aceleram a recuperação funcional e previnem atrofia.
Além dos exercícios ativos, é importante manter a massa corporal ideal, pois o excesso de peso compromete a formação da falsa articulação e dificulta o uso do membro operado.
Uma alimentação equilibrada e rica em nutrientes que favoreçam a saúde muscular e articular deve ser mantida durante todo o processo de reabilitação.
O tempo médio de recuperação funcional após a colocefalectomia varia entre 6 e 12 semanas, mas isso depende da idade, porte, condição muscular prévia e dedicação à fisioterapia.
O objetivo não é restaurar a articulação original, mas permitir que o cão recupere uma marcha confortável, funcional e sem dor.
Muitos cães retornam às suas atividades normais com ótima qualidade de vida, especialmente se o protocolo de reabilitação for seguido com consistência.
Referências bibliográficas:
Millis, D. L., & Levine, D. (2013). Canine Rehabilitation and Physical Therapy (2nd ed.).
Elsevier.Fossum, T. W. (2018). Small Animal Surgery (5th ed.). Elsevier.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.
