Erros mais comuns que atrapalham a recuperação pós-cirúrgica em cães
- Felipe Garofallo

- 3 de nov.
- 2 min de leitura
Um dos maiores desafios na ortopedia veterinária é garantir que o período pós-cirúrgico ocorra de forma tranquila e eficaz.

Mesmo quando a cirurgia é tecnicamente perfeita, alguns erros cometidos durante a recuperação podem comprometer o resultado e atrasar a cicatrização.
O erro mais comum é a falta de restrição adequada de movimento.
Muitos tutores, por pena ou desconhecimento, permitem que o cão caminhe, salte ou suba escadas antes do tempo recomendado. Esse comportamento pode gerar tensão sobre a sutura, deslocamento de implantes e até ruptura de estruturas recém-reparadas.
A restrição deve ser absoluta nas primeiras semanas e liberada de forma gradual, sempre conforme orientação veterinária.
Outro equívoco frequente é o abandono precoce do uso de colar elizabetano.
Mesmo uma pequena lambedura na incisão pode levar à contaminação e deiscência de pontos. O colar deve permanecer até que a ferida esteja completamente cicatrizada e sem crostas, geralmente após 10 a 14 dias.
A negligência na fisioterapia também é um fator crítico. Muitos tutores acreditam que o simples repouso é suficiente para a recuperação, mas a ausência de estímulos controlados causa rigidez articular, atrofia muscular e perda de propriocepção.
A fisioterapia deve ser iniciada o quanto antes, respeitando a fase de cicatrização e o tipo de cirurgia, para restaurar a função de maneira segura.
O controle inadequado da dor é outro erro relevante. A subdosagem ou interrupção precoce da medicação analgésica faz com que o animal evite o uso do membro, prejudicando o retorno à marcha e a oxigenação tecidual.
Da mesma forma, o uso excessivo ou não prescrito de anti-inflamatórios pode causar efeitos colaterais graves.
A má aderência às orientações nutricionais também interfere na recuperação.
O excesso de peso sobrecarrega as articulações e os implantes, enquanto dietas pobres em proteínas ou micronutrientes comprometem o reparo tecidual.
Suplementos condroprotetores e alimentos ricos em ômega-3 auxiliam na modulação da inflamação e na cicatrização adequada.
Por fim, o tutor muitas vezes interpreta sinais clínicos de forma equivocada, confunde edema normal com infecção, ou ignora alterações sutis como claudicação intermitente.
A comunicação contínua com o veterinário e o acompanhamento por reavaliações radiográficas são fundamentais para detectar precocemente qualquer problema.
Em resumo, a recuperação pós-cirúrgica ideal depende tanto da técnica do cirurgião quanto do comprometimento do tutor em seguir corretamente as recomendações.
A disciplina, o controle da dor, a reabilitação gradual e a vigilância constante são os pilares para garantir um resultado funcional e duradouro.
Referências bibliográficas:
1. Fossum, T. W. (2019). *Small Animal Surgery* (5th ed.). Elsevier.
2. Millis, D. L., & Levine, D. (2014). *Canine Rehabilitation and Physical Therapy* (2nd ed.). Elsevier.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.