O diagnóstico da ruptura do ligamento cruzado cranial (LCC) em cães é um processo essencial e detalhado que envolve uma combinação de história clínica, exame físico, e frequentemente, exames de imagem para confirmar a condição. A consulta veterinária para avaliar a possibilidade de uma ruptura do LCC geralmente inicia com uma conversa detalhada entre o veterinário e o tutor do animal, onde o profissional busca compreender a origem e evolução dos sintomas apresentados pelo cão.
Inicialmente, o veterinário faz perguntas sobre a história clínica do cão, como quando os sintomas começaram, se houve algum trauma ou lesão aparente, e se o cão tem apresentado claudicação (mancando) ou dificuldade em se levantar. Em muitos casos, a ruptura do LCC pode ocorrer de forma gradual, com o tutor notando uma piora progressiva na mobilidade do cão ao longo do tempo. Em outras situações, a ruptura pode ocorrer de forma aguda, especialmente após um evento de alta atividade ou trauma.
Após essa etapa inicial, o veterinário realiza um exame físico detalhado. Durante o exame, o foco principal estará nos membros posteriores do cão, especialmente na articulação do joelho (articulação femoro-tibio-patelar). O veterinário observará o cão andando e se movimentando para identificar qualquer sinal de claudicação ou anormalidade na postura. Cães com ruptura do LCC frequentemente exibem uma postura característica, evitando colocar peso na perna afetada ou carregando o membro lesionado.
Um dos testes mais comuns realizados durante o exame físico é o "teste de gaveta". Esse teste envolve o veterinário segurando a coxa do cão com uma mão e a tíbia com a outra, tentando mover a tíbia para frente em relação ao fêmur.
Em um joelho saudável, essa movimentação deve ser mínima ou inexistente, devido à integridade do ligamento cruzado cranial. No entanto, em um cão com ruptura do LCC, a tíbia pode se mover significativamente para frente, indicando a ruptura do ligamento. Este é um dos indicadores mais fortes de uma ruptura completa do LCC. Outro teste, conhecido como "teste de compressão tibial", também pode ser realizado, onde a pressão é aplicada sobre a tíbia para avaliar o deslocamento da articulação.
Embora esses testes clínicos sejam eficazes, especialmente em casos de rupturas completas, eles podem ser menos conclusivos em rupturas parciais ou em cães muito tensos ou musculosos. Por isso, o veterinário pode recomendar exames de imagem para confirmar o diagnóstico. A radiografia é uma ferramenta comum usada para avaliar o joelho e descartar outras condições, como fraturas ou displasia coxofemoral. No entanto, a radiografia por si só não pode visualizar o ligamento cruzado cranial diretamente. O que os veterinários buscam na radiografia são sinais indiretos, como a presença de osteoartrite ou deslocamento da tíbia em relação ao fêmur.
Em alguns casos, especialmente quando o diagnóstico ainda é incerto, a ultrassonografia ou a ressonância magnética (RM) podem ser recomendadas. A ultrassonografia pode ser útil para visualizar os tecidos moles ao redor da articulação, enquanto a RM oferece uma imagem mais detalhada dos ligamentos, permitindo ao veterinário identificar qualquer ruptura parcial ou completa. A artroscopia, que envolve a inserção de uma câmera pequena dentro da articulação, é outra técnica avançada que pode ser utilizada, proporcionando uma visão direta do estado do ligamento e permitindo o diagnóstico mais preciso.
Além disso, o veterinário pode observar o joelho em busca de sinais de inflamação, inchaço ou dor, todos indicativos de uma possível lesão ligamentar. O exame pode ser repetido em diferentes posições e sob diferentes níveis de sedação para garantir a precisão do diagnóstico.
Após o exame físico e os testes complementares, o veterinário discutirá com o tutor as opções de tratamento, que podem variar desde o manejo conservador em casos leves até a cirurgia em casos de rupturas completas.
O veterinário também explicará o prognóstico e as possíveis complicações associadas à condição, como o desenvolvimento de osteoartrite no joelho afetado, que é uma consequência comum da ruptura do ligamento cruzado cranial.
Em resumo, o diagnóstico da ruptura do ligamento cruzado cranial em cães é um processo multidisciplinar que envolve uma combinação de história clínica detalhada, exame físico, e frequentemente, exames de imagem para confirmar a condição. A precisão no diagnóstico é essencial para garantir que o cão receba o tratamento adequado e tenha as melhores chances de recuperação e retorno a uma vida ativa e saudável.
Referências bibliográficas
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2. Vasseur, P. B., & Arnoczky, S. P. (1981). Diagnosis of Rupture of the Cranial Cruciate Ligament in Dogs. Journal of the American Veterinary Medical Association, 178(7), 717-724.
Sobre o autor
Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972), especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades. Agende uma consulta presencial pelo whatsapp (11)91258-5102 ou uma consultoria on-line por vídeo.
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