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Deixar somente a placa em fraturas de radio e ulna: uma opção?

A discussão sobre a retirada seletiva de implantes ortopédicos, em especial a conduta de remover apenas os parafusos e manter a placa em fraturas de rádio e ulna em cães, vem ganhando espaço nos últimos anos, sobretudo em raças atléticas como os galgos.


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Tradicionalmente, a prática mais comum em ortopedia veterinária tem sido ou manter o implante até o final da vida do paciente, exceto em alguns casos específicos.


Quando não há dor, infecção ou complicações, ou proceder à retirada completa da placa e dos parafusos após consolidação óssea, visando eliminar riscos tardios como infecção, desconforto ou refraturas nos orifícios deixados pelos parafusos.


No entanto, trabalhos recentes têm levantado a possibilidade de uma terceira via: retirar apenas os parafusos que geram reação adversa, deixando a placa como elemento inerte, desde que não represente fonte de instabilidade ou irritação.


A justificativa biomecânica para essa conduta é que, após a consolidação, o osso já suporta a carga primária, e a placa torna-se um corpo estranho sem função estrutural.


Sua permanência, em teoria, poderia ajudar a reduzir a fragilidade dos orifícios deixados pela remoção dos parafusos, funcionando como um “escudo” temporário contra refraturas, especialmente em ossos longos e delgados como o rádio.


Isso é relevante em raças como galgos, em que a atividade física intensa aumenta o risco de falhas mecânicas após explante. Alguns autores argumentam ainda que, ao manter a placa, evita-se um novo procedimento cirúrgico extenso, diminuindo o tempo anestésico, a morbidade pós-operatória e o risco de infecção iatrogênica.


Por outro lado, a literatura também alerta para limitações importantes dessa estratégia. Placas sem parafusos atuando como corpo estranho podem provocar fibrose local, irritação de tecidos moles ou até micromovimentos dolorosos se não estiverem totalmente estáveis. Além disso, permanecem como possíveis focos de infecção latente, mesmo em ossos consolidados.


Estudos clínicos retrospectivos mostram que falhas de implantes estão associadas a complicações como atraso de união ou má união, indicando que manter material inerte pode não ser isento de risco.


A experiência em ortopedia humana também demonstra que o stress shielding (o desvio de carga do osso para o implante) pode levar à reabsorção óssea ao redor da placa, embora a relevância desse fenômeno em cães varie conforme porte, raça e intensidade de atividade física.


Atualmente, não há consenso consolidado nem diretrizes universais que definam quando a placa pode ou deve ser mantida após retirada dos parafusos. O que se observa é uma tendência a individualizar a conduta: em cães de alto desempenho atlético, como os galgos, alguns cirurgiões têm optado por retirar apenas parafusos que causam dor ou reação localizada, mantendo a placa se ela não representa desconforto.


Em síntese, retirar apenas os parafusos e manter a placa em fraturas de rádio e ulna em cães é uma conduta possível e relatada na literatura, especialmente em raças atléticas, mas ainda carece de estudos robustos que confirmem sua segurança a longo prazo.


Por enquanto, trata-se de uma estratégia que deve ser aplicada de forma seletiva, avaliada caso a caso, e sempre acompanhada de monitoramento clínico e radiográfico rigoroso.


Referências bibliográficas


Andrade, N., et al. (2023). Indications for the removal of implants after fracture healing. EFORT Open Reviews, 8(10), 633–642.


Menghini, G., et al. (2023). Fracture Healing in 37 Dogs and Cats with Implant Failure. Animals, 13(15), 1549.


Sobre o autor


Dr. Felipe Garofallo, veterinário ortopedista, especializado no diagnóstico e tratamento de problemas articulares e musculoesqueléticos em cães

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.



 
 

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