Crepitação em cães
- Felipe Garofallo

- 29 de jul.
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Atualizado: 12 de set.
A crepitação é um achado clínico caracterizado por um som ou sensação de estalido, rangido ou atrito perceptível durante a movimentação de uma articulação, osso ou tecido subcutâneo.

Em cães, esse fenômeno pode ser detectado durante o exame físico, principalmente ao mobilizar articulações ou palpar áreas com suspeita de fratura ou inflamação.
Embora nem toda crepitação indique um problema grave, ela frequentemente está associada a condições ortopédicas ou traumáticas que exigem atenção veterinária.
Existem dois tipos principais de crepitação:
Crepitação óssea ou articular, que ocorre quando superfícies ósseas ou cartilaginosas irregulares entram em atrito. É comum em cães com artrose, onde a cartilagem articular está desgastada, expondo o osso subcondral. Também pode ser observada em casos de luxações, fraturas instáveis ou após cirurgias articulares.
Crepitação subcutânea, que acontece quando há presença de ar no tecido subcutâneo (enfisema subcutâneo), geralmente secundária a traumas penetrantes, infecções por bactérias produtoras de gás ou ruptura traqueal em procedimentos como intubação.
Do ponto de vista clínico, a crepitação articular é frequentemente acompanhada de outros sinais, como dor à mobilização, claudicação (mancar), rigidez articular e limitação da amplitude de movimento.
Em cães idosos ou com histórico de displasia coxofemoral, displasia de cotovelo ou osteocondrite dissecante (OCD), a crepitação é um achado relativamente comum. No entanto, sua presença deve ser sempre correlacionada com sintomas clínicos e exames de imagem para definição do diagnóstico e da abordagem terapêutica.
A crepitação óssea associada a fraturas é típica de ossos instáveis, quando as extremidades fraturadas se movimentam entre si.
Nesse caso, é um sinal importante de fratura não consolidada ou mal estabilizada, e deve motivar investigação imediata com radiografias. Já a crepitação subcutânea é geralmente percebida como um estalido sob a pele, como se fosse um plástico bolha, e sua causa deve ser rapidamente identificada para evitar complicações graves, como infecções profundas ou pneumotórax.
O tratamento da crepitação dependerá da causa subjacente. Nos casos de artrose, o manejo pode incluir controle da dor com anti-inflamatórios, uso de condroprotetores, perda de peso e fisioterapia. Em fraturas com crepitação, é necessário realizar estabilização cirúrgica adequada. Nos casos de enfisema subcutâneo, deve-se identificar e tratar a fonte da entrada de ar, muitas vezes com suporte hospitalar.
Vale destacar que, ocasionalmente, crepitações podem ser percebidas em articulações sem sinais clínicos relevantes, especialmente em cães idosos ou após longos períodos de repouso. Quando não estão associadas a dor ou limitação funcional, esses achados podem ser apenas fisiológicos, exigindo apenas acompanhamento periódico.
Referências bibliográficas:
Piermattei, D. L., Flo, G. L., & DeCamp, C. E. (2006). Brinker, Piermattei and Flo’s Handbook of Small Animal Orthopedics and Fracture Repair (4th ed.). Elsevier.
Fossum, T. W. (2019). Small Animal Surgery (5th ed.). Elsevier.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.