Contratura muscular em cães
- Felipe Garofallo

- 29 de jul.
- 2 min de leitura
Atualizado: 12 de set.
A contratura muscular em cães é uma condição patológica em que o músculo perde sua elasticidade normal e permanece em um estado de encurtamento permanente, limitando a movimentação das articulações associadas.

Essa alteração não se trata apenas de espasmo ou tensão muscular temporária, mas sim de uma substituição progressiva das fibras musculares por tecido fibroso, o que compromete de forma definitiva a função do músculo afetado.
Entre as causas mais comuns da contratura estão as lesões musculares traumáticas, como lacerações, distensões e contusões profundas, geralmente decorrentes de acidentes, exercícios extenuantes ou sobrecarga repetitiva.
Essas lesões levam a inflamação e necrose muscular localizadas, e, caso não sejam tratadas adequadamente, resultam em cicatrização excessiva e fibrose.
Outras causas incluem compressões neuromusculares crônicas, infecções musculares (miosites), doenças neurológicas, ou ainda imobilizações prolongadas, como aquelas pós-fraturas ou cirurgias ortopédicas, em que o desuso do membro leva a encurtamento e rigidez muscular progressivos.
Uma das contraturas mais descritas na literatura é a da musculatura gracilis e semitendinoso, mais frequente em cães de trabalho ou esportivos, como o pastor alemão. Nesses casos, o animal começa a apresentar um movimento anormal da pata traseira, em que ela se curva medialmente durante a marcha, muitas vezes de forma bilateral.
A contratura do bíceps braquial no membro torácico também é relatada, especialmente após traumas diretos ou microlesões repetitivas.
Clinicamente, o cão com contratura muscular apresenta dificuldade de movimentar a articulação associada, com limitação da amplitude de flexão ou extensão. A musculatura pode estar rígida, fina e retraída, e a tentativa de estiramento passivo gera resistência firme e, às vezes, dor.
Com o tempo, ocorre atrofia muscular ao redor da área afetada, e o animal passa a compensar o movimento com outras articulações, podendo desenvolver claudicação e alterações posturais.
O diagnóstico é baseado na avaliação ortopédica e neurológica detalhada, com exames de imagem como radiografias (para excluir causas ósseas ou articulares) e, quando necessário, ultrassonografia ou ressonância magnética, que permitem observar alterações na arquitetura muscular e presença de fibrose. A eletromiografia pode ser útil para diferenciar contraturas de causas neuromusculares puras.
O tratamento depende da gravidade e da cronicidade da lesão. Em casos leves, fisioterapia intensiva com alongamentos passivos, eletroterapia, hidroterapia e laserterapia pode ser suficiente para restaurar parte da flexibilidade e melhorar a função.
Entretanto, nas contraturas fibrosas mais severas, a única alternativa pode ser a intervenção cirúrgica, com tenotomia (liberação de tendões), miotomia (liberação muscular) ou mesmo remoção parcial do músculo afetado.
Mesmo após cirurgia, a fisioterapia é essencial para prevenir a recidiva. É importante ressaltar que o prognóstico varia de acordo com o músculo envolvido, o tempo de evolução e o grau de fibrose instalado.
Em contraturas detectadas precocemente e com boa resposta à reabilitação, o retorno funcional pode ser excelente. Já nos casos crônicos, com rigidez avançada e alterações compensatórias em outras articulações, o prognóstico é mais reservado.
Referências bibliográficas:
Piermattei, D. L., Flo, G. L., & DeCamp, C. E. (2006). Brinker, Piermattei and Flo’s Handbook of Small Animal Orthopedics and Fracture Repair (4th ed.). Elsevier.
Millis, D. L., & Levine, D. (2013). Canine Rehabilitation and Physical Therapy (2nd ed.). Elsevier.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.