Complicações neurológicas após anestesia em cães
- Felipe Garofallo

- 22 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 28 de set.
Complicações neurológicas após anestesia em cães são eventos raros, mas que podem ocorrer e causar grande preocupação tanto para tutores quanto para a equipe veterinária.
Esses efeitos podem se manifestar logo após o término do procedimento anestésico ou nas horas e dias seguintes, com sinais clínicos que variam desde desorientação e ataxia até déficits neurológicos mais severos, como paralisias, convulsões ou perda de propriocepção.

A anestesia em si é segura quando conduzida por profissionais qualificados e com protocolos bem estabelecidos. No entanto, diversos fatores podem contribuir para o surgimento de complicações neurológicas.
Entre eles, destaca-se a hipotensão prolongada durante o procedimento, que pode reduzir a perfusão cerebral e provocar hipóxia em áreas sensíveis do sistema nervoso central. Da mesma forma, episódios de hipoglicemia, hipoxemia, hipercapnia ou alterações eletrolíticas durante a anestesia podem interferir na função neurológica e causar danos temporários ou permanentes.
Outra causa importante de complicações neurológicas é o posicionamento inadequado do animal durante a anestesia. Compressões prolongadas sobre raízes nervosas, especialmente em pacientes grandes ou com longas cirurgias, podem causar neuropraxias, formas leves de lesão nervosa ou até paralisias temporárias de membros.
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Voltando ao nosso tópico, quando a cabeça é posicionada de forma inadequada, pode haver obstrução parcial da circulação cerebral ou compressão de estruturas cervicais, levando a sinais de desequilíbrio, nistagmo ou perda de reflexos. Também é possível que o paciente desenvolva cegueira transitória por isquemia no nervo óptico, embora isso seja extremamente raro.
Reações adversas a fármacos anestésicos também podem ocorrer. Alguns cães apresentam hipersensibilidade a determinados agentes, especialmente em casos de predisposição genética, distúrbios hepáticos ou falhas na metabolização de drogas. Substâncias como propofol, cetamina, opioides e agentes inalantes podem desencadear efeitos excitatórios ou depressivos sobre o sistema nervoso central, especialmente quando há desequilíbrio na dose, tempo de infusão ou associação com outros medicamentos.
Em alguns casos, as complicações neurológicas estão associadas a eventos anestésicos secundários a condições pré-existentes não diagnosticadas, como mielopatias, neoplasias intracranianas ou malformações vertebrais. Nesses cenários, a anestesia atua como um gatilho que agrava uma lesão silenciosa, e os sinais aparecem logo após o procedimento, levando o tutor a associar diretamente a anestesia ao problema, embora não tenha sido a causa primária.
Os sinais clínicos mais comuns dessas complicações incluem desorientação prolongada no pós-operatório, dificuldade de locomoção, incoordenação, andar em círculos, tremores, vocalizações anormais, cegueira súbita, ausência de reflexos ou resposta à dor, paralisia parcial ou total de membros, e em casos graves, convulsões.
É fundamental que a equipe veterinária monitore cuidadosamente o paciente após a anestesia, garantindo um ambiente tranquilo, livre de estímulos excessivos e com suporte contínuo para correção de alterações fisiológicas.
O tratamento das complicações neurológicas após anestesia depende da causa identificada. Em casos leves, como neuropraxias por posicionamento, a recuperação ocorre de forma espontânea em dias ou semanas, com apoio de fisioterapia e analgesia.
Se a causa for metabólica, como hipoglicemia ou distúrbios eletrolíticos, a correção rápida pode reverter o quadro. Já em situações mais graves, pode ser necessário suporte intensivo, uso de anticonvulsivantes, corticoterapia e acompanhamento neurológico especializado.
O prognóstico varia de acordo com a extensão da lesão neurológica e a velocidade da intervenção terapêutica. A maioria dos casos leves tem recuperação completa, enquanto quadros mais complexos podem deixar sequelas permanentes.
O mais importante é que o tutor seja orientado sobre os riscos potenciais, ainda que baixos e que o protocolo anestésico seja individualizado para cada paciente, com monitoramento rigoroso de parâmetros vitais durante todo o procedimento.
A anestesia, quando bem conduzida, é uma ferramenta extremamente segura na medicina veterinária moderna. No entanto, como qualquer intervenção médica, exige preparo, atenção aos detalhes e acompanhamento pós-operatório cuidadoso para minimizar riscos e garantir o bem-estar do animal.
Referências bibliográficas:
Hubbell, J. A. E., & Bednarski, R. M. (2015). Anesthesia and Analgesia for Veterinary Practitioners.
Wiley-Blackwell.Muir, W. W., Hubbell, J. A., Skarda, R. T., & Bednarski, R. M. (2000). Handbook of Veterinary Anesthesia (3rd ed.). Mosby.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.
