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Complicações de osteossínteses em cães: como lidar

Atualizado: 12 de set.

As complicações de osteossínteses em cães são eventos que, apesar dos avanços nas técnicas cirúrgicas e na qualidade dos implantes, ainda podem ocorrer e devem ser cuidadosamente reconhecidas, prevenidas e manejadas.


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A osteossíntese, que consiste na fixação de fragmentos ósseos com placas, parafusos, pinos ou fios, é amplamente utilizada no tratamento de fraturas em cães.


Embora a maioria dos casos evolua para uma recuperação satisfatória, há situações em que intercorrências surgem, comprometendo o processo de consolidação óssea e colocando em risco o bem-estar do paciente.


Entre as complicações mais comuns estão as infecções pós-operatórias, a falha de implantes, a pseudoartrose, o retardo na consolidação óssea e a reabsorção óssea ao redor dos parafusos. A infecção é especialmente preocupante quando associada à presença de material metálico, pois a formação de biofilme bacteriano dificulta o controle com antibióticos convencionais.


Nesses casos, é essencial identificar precocemente sinais clínicos como dor persistente, edema, secreção purulenta e febre. O tratamento pode exigir a remoção do implante após estabilização da fratura, drenagem da região e antibioticoterapia de longo prazo, guiada por cultura e antibiograma.


A falha de implantes, por sua vez, geralmente está relacionada à sobrecarga mecânica sobre o sistema de fixação, seja por escolha inadequada do tipo de implante, por técnica cirúrgica deficiente ou por atividade precoce do animal no pós-operatório.


O rompimento de parafusos, dobramento de placas ou migração de pinos exige reintervenção cirúrgica para substituição ou reposicionamento dos componentes e, eventualmente, adoção de um método de estabilização mais robusto. Em algumas fraturas, especialmente as cominutivas, o suporte ósseo é limitado, e a fixação pode ficar vulnerável se não houver distribuição adequada das forças biomecânicas.


A pseudoartrose, caracterizada pela não união dos fragmentos ósseos com formação de tecido fibroso entre eles, é uma complicação séria que pode demandar enxertos ósseos autógenos ou o uso de substitutos ósseos sintéticos, além da revisão completa da estabilização.


Já o retardo de consolidação pode ser manejado inicialmente com restrição de movimento e controle nutricional e metabólico, mas também pode evoluir para pseudoartrose se não tratado a tempo.


Outro aspecto importante está relacionado à biocompatibilidade e à resposta do organismo aos implantes. Em alguns cães, especialmente de raças pequenas ou com predisposição genética, pode haver reação exagerada ao material, resultando em osteólise ao redor dos parafusos, o que reduz a estabilidade do sistema e pode causar falha mecânica.


O acompanhamento radiográfico periódico, associado à avaliação clínica criteriosa, é indispensável para detectar precocemente essas alterações e evitar complicações maiores.


Para lidar com essas complicações, o médico veterinário precisa adotar uma abordagem sistemática, que inclua o planejamento pré-operatório rigoroso, o uso de técnicas assépticas irrepreensíveis, a escolha adequada dos implantes e o estabelecimento de protocolos de acompanhamento individualizado.


O envolvimento do tutor no pós-operatório também é essencial, pois o sucesso do tratamento depende, em grande parte, da obediência às restrições impostas, como contenção do animal, uso correto de medicações e comparecimento às reavaliações.


A tomada de decisão frente a uma complicação exige conhecimento técnico, experiência clínica e bom senso. Em muitos casos, é preciso ponderar entre a remoção dos implantes, o uso de novos materiais, a reabordagem cirúrgica ou o manejo conservador.


Cada caso deve ser avaliado de forma única, considerando a condição geral do animal, a gravidade da complicação, o tempo de evolução e o impacto funcional para o paciente.


Com o avanço das técnicas de imagem, dos biomateriais e da compreensão da fisiologia óssea, o manejo de complicações de osteossínteses em cães tem se tornado mais preciso e previsível. No entanto, a prevenção ainda é a melhor estratégia.


Cirurgias bem planejadas, implantes de qualidade e equipe treinada são os pilares para minimizar riscos e garantir uma recuperação segura e eficaz.


Referências bibliográficas:


PIERMATTEI, D. L.; FLO, G. L.; DEWEY, C. W. Brinker, Piermattei and Flo’s Handbook of Small Animal Orthopedics and Fracture Repair. 5th ed. Elsevier, 2015.


JOHNSON, A. L.; HOULTON, J. E. F.; VANNINI, R. AO Principles of Fracture Management in the Dog and Cat. Thieme, 2005.


Sobre o autor


Dr. Felipe Garofallo, veterinário ortopedista, especializado no diagnóstico e tratamento de problemas articulares e musculoesqueléticos em cães

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.


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