Como identificar dor neuropática em cães com doenças ortopédicas
- Felipe Garofallo

- 9 de out.
- 2 min de leitura
A dor neuropática em cães com doenças ortopédicas é uma condição complexa e frequentemente subdiagnosticada, pois seus sinais se misturam com os da dor inflamatória ou mecânica.

A dor neuropática surge quando há lesão ou disfunção no sistema nervoso periférico ou central, fazendo com que o cérebro interprete estímulos normais, ou até mesmo a ausência deles, como dor.
Esse tipo de dor é comum em pacientes com ruptura de ligamento cruzado cranial, hérnias de disco, displasia coxofemoral crônica e artrose avançada.
Os sinais clínicos iniciais podem ser sutis. Cães com dor neuropática frequentemente apresentam hipersensibilidade ao toque (alodinia) ou reagem de forma exagerada a estímulos leves (hiperalgesia).
O tutor pode relatar que o animal chora ao ser acariciado, evita o contato em determinadas regiões ou demonstra desconforto mesmo em repouso.
É comum observar também mudanças comportamentais, como inquietação, lambedura compulsiva, agressividade ou episódios de auto-mutilação, especialmente em regiões distais dos membros.
Em casos ortopédicos, a dor neuropática costuma se instalar após períodos prolongados de inflamação articular, nos quais há sensibilização dos nociceptores e ativação de vias centrais da dor. Com o tempo, o sistema nervoso passa a gerar impulsos dolorosos mesmo na ausência de estímulo periférico, fenômeno conhecido como sensibilização central.
Radiografias e exames físicos podem mostrar estabilidade articular adequada, mas o animal continua apresentando dor e claudicação, o que confunde o diagnóstico.
O exame clínico deve incluir avaliação neurológica detalhada, com observação de reflexos, resposta ao toque leve e pressão profunda.
A presença de dor desproporcional ao exame físico ou em áreas fora do foco da lesão ortopédica é altamente sugestiva de componente neuropático. Testes complementares, como a termografia, podem evidenciar áreas de hiperatividade nervosa.
O tratamento requer uma abordagem multimodal. Analgésicos convencionais, como anti-inflamatórios, costumam ter eficácia limitada.
Os fármacos de escolha incluem gabapentina, pregabalina e amantadina, que modulam a excitabilidade neuronal e reduzem a transmissão aberrante de dor.
Em alguns casos, antidepressivos tricíclicos e bloqueios anestésicos regionais podem ser utilizados para interromper temporariamente os circuitos de dor.
A fisioterapia neuromuscular, acupuntura e laserterapia complementam o tratamento, estimulando a reorganização neuronal e reduzindo a sensibilização central.
Identificar a dor neuropática é fundamental para evitar tratamentos ineficazes e sofrimento prolongado.
O reconhecimento precoce e o manejo adequado dessa condição permitem restabelecer o conforto e a função motora do paciente ortopédico, melhorando significativamente sua qualidade de vida.
Referências bibliográficas:
1. Mathews, K. A., Kronen, P. W., & Lascelles, B. D. X. (2014). Guidelines for recognition, assessment, and treatment of pain. Journal of Small Animal Practice, 55(6), E10–E68.
2. Lascelles, B. D. X., Gaynor, J. S., & Muir, W. W. (2008). Pathophysiology and management of pain in the dog and cat. In: Gaynor, J. S., & Muir, W. W. (Eds.), Handbook of Veterinary Pain Management (2nd ed.). Elsevier.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.