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Como identificar dor neuropática em cães com doenças ortopédicas

A dor neuropática em cães com doenças ortopédicas é uma condição complexa e frequentemente subdiagnosticada, pois seus sinais se misturam com os da dor inflamatória ou mecânica.


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A dor neuropática surge quando há lesão ou disfunção no sistema nervoso periférico ou central, fazendo com que o cérebro interprete estímulos normais, ou até mesmo a ausência deles, como dor.


Esse tipo de dor é comum em pacientes com ruptura de ligamento cruzado cranial, hérnias de disco, displasia coxofemoral crônica e artrose avançada.


Os sinais clínicos iniciais podem ser sutis. Cães com dor neuropática frequentemente apresentam hipersensibilidade ao toque (alodinia) ou reagem de forma exagerada a estímulos leves (hiperalgesia).


O tutor pode relatar que o animal chora ao ser acariciado, evita o contato em determinadas regiões ou demonstra desconforto mesmo em repouso.


É comum observar também mudanças comportamentais, como inquietação, lambedura compulsiva, agressividade ou episódios de auto-mutilação, especialmente em regiões distais dos membros.


Em casos ortopédicos, a dor neuropática costuma se instalar após períodos prolongados de inflamação articular, nos quais há sensibilização dos nociceptores e ativação de vias centrais da dor. Com o tempo, o sistema nervoso passa a gerar impulsos dolorosos mesmo na ausência de estímulo periférico, fenômeno conhecido como sensibilização central.


Radiografias e exames físicos podem mostrar estabilidade articular adequada, mas o animal continua apresentando dor e claudicação, o que confunde o diagnóstico.


O exame clínico deve incluir avaliação neurológica detalhada, com observação de reflexos, resposta ao toque leve e pressão profunda.


A presença de dor desproporcional ao exame físico ou em áreas fora do foco da lesão ortopédica é altamente sugestiva de componente neuropático. Testes complementares, como a termografia, podem evidenciar áreas de hiperatividade nervosa.


O tratamento requer uma abordagem multimodal. Analgésicos convencionais, como anti-inflamatórios, costumam ter eficácia limitada.


Os fármacos de escolha incluem gabapentina, pregabalina e amantadina, que modulam a excitabilidade neuronal e reduzem a transmissão aberrante de dor.


Em alguns casos, antidepressivos tricíclicos e bloqueios anestésicos regionais podem ser utilizados para interromper temporariamente os circuitos de dor.


A fisioterapia neuromuscular, acupuntura e laserterapia complementam o tratamento, estimulando a reorganização neuronal e reduzindo a sensibilização central.


Identificar a dor neuropática é fundamental para evitar tratamentos ineficazes e sofrimento prolongado.


O reconhecimento precoce e o manejo adequado dessa condição permitem restabelecer o conforto e a função motora do paciente ortopédico, melhorando significativamente sua qualidade de vida.


Referências bibliográficas:


1. Mathews, K. A., Kronen, P. W., & Lascelles, B. D. X. (2014). Guidelines for recognition, assessment, and treatment of pain. Journal of Small Animal Practice, 55(6), E10–E68.


2. Lascelles, B. D. X., Gaynor, J. S., & Muir, W. W. (2008). Pathophysiology and management of pain in the dog and cat. In: Gaynor, J. S., & Muir, W. W. (Eds.), Handbook of Veterinary Pain Management (2nd ed.). Elsevier.


Sobre o autor


Dr. Felipe Garofallo, veterinário ortopedista, especializado no diagnóstico e tratamento de problemas articulares e musculoesqueléticos em cães

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.


Horário: Segunda à sexta, 09h às 18h. Sábados 10:00 às 14:00
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