Como acelerar a consolidação óssea em cães: terapias adjuvantes
- Felipe Garofallo

- 16 de set.
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A consolidação óssea é um processo fisiológico complexo, dependente de fatores biológicos (atividade celular, vascularização, estado nutricional) e mecânicos (estabilidade da fratura).

Em casos ortopédicos, especialmente quando se busca reduzir o tempo de recuperação ou em situações de risco de atraso de cicatrização, diferentes terapias adjuvantes vêm sendo estudadas com o objetivo de acelerar a consolidação óssea em cães.
Entre as estratégias com mais evidências está o uso de fatores biológicos, como enxertos e substitutos ósseos. O osso autógeno esponjoso continua sendo o padrão-ouro, pois fornece células osteoprogenitoras, matriz e fatores de crescimento.
Alternativas como enxertos alógenos, xenógenos e biomateriais sintéticos (fosfato tricálcico, hidroxiapatita, vidro bioativo) apresentam propriedades osteocondutivas, mas menos efeito osteoindutivo.
Associar esses materiais a fatores biológicos, como plasma rico em plaquetas (PRP) ou concentrado de medula óssea, tem demonstrado aceleração do processo de formação de calo ósseo, embora os resultados sejam variáveis devido à falta de padronização nas técnicas de preparo.
Outra linha de pesquisa envolve o uso de células-tronco mesenquimais, obtidas principalmente da medula óssea ou do tecido adiposo.
Esses produtos apresentam potencial de diferenciação osteogênica e de modulação inflamatória, podendo melhorar a qualidade e a velocidade da consolidação. Estudos experimentais em cães mostram resultados promissores, mas ainda não há consenso quanto à dose ideal, via de administração ou protocolos padronizados.
Entre os recursos físicos, a estimulação elétrica ou ultrassônica de baixa intensidade (LIPUS) tem sido testada em ortopedia veterinária.
O ultrassom pulsado de baixa intensidade atua estimulando mecanorreceptores celulares e favorecendo a angiogênese, resultando em consolidação mais precoce em alguns modelos de fratura. Já a eletroestimulação óssea (corrente contínua ou pulsada) tem evidências mais consistentes em medicina humana, mas em cães os estudos ainda são limitados, restritos a casos experimentais ou relatos clínicos.
A terapia por ondas de choque extracorpóreas (ESWT) também vem sendo explorada. Ela estimula microlesões controladas que aumentam a vascularização e liberam fatores de crescimento locais, podendo melhorar a taxa de consolidação em fraturas de difícil cicatrização e em casos de pseudoartrose.
Em cães, resultados preliminares sugerem benefício, especialmente quando associada a estabilização adequada e suporte nutricional.
Além disso, fatores sistêmicos não podem ser ignorados. Uma dieta equilibrada, com aporte adequado de proteínas, cálcio, fósforo e vitamina D, é fundamental para o processo osteogênico.
Suplementos como a vitamina C (cofator na síntese de colágeno) e a vitamina K2 (associada à mineralização) têm sido estudados como auxiliares, embora com menor robustez científica na medicina veterinária.
Em resumo, há evidências crescentes de que terapias adjuvantes, biológicas (PRP, células-tronco, enxertos), físicas (LIPUS, eletroestimulação, ondas de choque) e nutricionais, podem acelerar a consolidação óssea em cães, especialmente em fraturas complexas ou em pacientes de risco.
No entanto, a maioria dos estudos ainda é experimental ou com amostras pequenas, e a escolha dessas terapias deve sempre ser complementar a uma osteossíntese estável e a um bom manejo clínico.
Referências bibliográficas
Egermann M, Goldhahn J, Schneider E. Animal models for fracture treatment in osteoporosis. Osteoporos Int. 2005;16 Suppl 2:S129-38.
Hsu WK, Wang JC. The use of bone morphogenetic protein in spine fusion. Spine J. 2008;8(3):419-25.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.