Claudicação intermitente em cães
- Felipe Garofallo

- 16 de set.
- 2 min de leitura
A claudicação intermitente em cães é um sinal clínico que pode ter múltiplas origens e merece investigação detalhada, pois muitas vezes não se manifesta de forma contínua, o que pode confundir o tutor e até retardar o diagnóstico.

Trata-se de uma alteração na marcha em que o animal apresenta períodos de normalidade e, em outros momentos, mancar perceptível ou recusar o apoio de um dos membros.
Principais causas ortopédicas
Entre as condições ortopédicas, destacam-se as doenças articulares degenerativas ou instáveis, como a ruptura parcial do ligamento cruzado cranial, que muitas vezes cursa com episódios de dor pós-exercício e melhora com repouso. A luxação de patela de graus leves, especialmente em raças pequenas, também pode causar claudicação que aparece e desaparece conforme a patela se desloca.
Em cães jovens, displasia coxofemoral inicial pode gerar claudicação intermitente, principalmente após atividade intensa. Alterações em cotovelo, como a fragmentação do processo coronóide medial, cursam de forma semelhante, com períodos de claudicação após exercícios.
As tendinopatias e lesões musculares em cães atletas ou muito ativos também se apresentam de forma intermitente, já que a dor aparece em momentos de esforço específico, mas o animal pode andar normalmente em repouso.
Outras causas
Além das alterações ortopédicas, doenças neurológicas (como hérnias de disco leves ou mielopatias iniciais) podem simular claudicação intermitente, já que os déficits aparecem em momentos de sobrecarga ou instabilidade. Também não se pode descartar causas vasculares ou dolorosas de tecidos moles, embora sejam menos comuns.
Diagnóstico
O ponto central é que a claudicação intermitente raramente aparece no consultório da mesma forma relatada pelo tutor. Por isso, a anamnese detalhada e a observação da marcha após exercício são fundamentais.
O exame ortopédico deve incluir palpação cuidadosa das articulações, testes específicos (Ortolani, gaveta cranial, compressão tibial, palpação de patela) e, se possível, registro em vídeo feito pelo tutor em casa. Radiografias, ultrassonografia musculoesquelética e tomografia são exames de apoio valiosos para identificar alterações sutis que não aparecem em repouso.
Manejo
O tratamento depende da causa subjacente. Claudicações relacionadas a instabilidades (como ruptura parcial de LCCr ou luxação de patela) tendem a progredir e frequentemente exigem correção cirúrgica.
Já tendinopatias e displasias iniciais podem se beneficiar de controle multimodal: ajuste de atividade, fisioterapia, controle de peso, analgésicos ou nutracêuticos. O acompanhamento frequente é essencial, já que quadros inicialmente discretos podem evoluir para doença articular degenerativa crônica.
Em resumo, a claudicação intermitente é um sinal de alerta. Mesmo que o cão “volte ao normal” após repouso, na maioria dos casos há uma lesão estrutural inicial. Reconhecer e tratar precocemente é o que garante melhor prognóstico.
Referências bibliográficas
Fossum TW. Small Animal Surgery. 5th ed. Elsevier; 2018.
Tobias KM, Johnston SA. Veterinary Surgery: Small Animal. 2nd ed. Elsevier; 2017.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.