Cirurgia de coluna em cães: quando é indicada e como é a recuperação
- Felipe Garofallo

- 21 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 28 de set.
A cirurgia de coluna em cães é um procedimento delicado, mas muitas vezes essencial para preservar ou recuperar a qualidade de vida de animais acometidos por doenças neurológicas graves.

Entre as principais indicações para a intervenção cirúrgica estão as hérnias de disco, fraturas vertebrais, luxações vertebrais, neoplasias espinhais e malformações congênitas. A decisão de operar deve ser cuidadosamente tomada com base no quadro clínico, histórico do paciente, exames de imagem como tomografia ou ressonância magnética e na resposta (ou ausência de resposta) ao tratamento conservador.
A hérnia de disco é, de longe, a causa mais comum de cirurgia de coluna em cães, especialmente em raças predispostas como Dachshund (teckel), Shih-tzu, Lhasa Apso, Beagle, Bulldog Francês e Cocker Spaniel.
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Voltando ao nosso tópico, nesses casos, o disco intervertebral sofre uma degeneração que leva à extrusão ou protrusão de seu conteúdo para dentro do canal vertebral, comprimindo a medula espinhal.
Essa compressão provoca dor intensa, dificuldade de locomoção, fraqueza nos membros e, em casos mais graves, paralisia e perda de controle urinário e fecal. Quando a compressão é significativa e não há melhora com repouso e medicação, a cirurgia se torna indicada como forma de descompressão e prevenção de danos permanentes.
Os principais procedimentos utilizados são a hemilaminectomia e a laminectomia, dependendo da localização e gravidade da lesão. Esses procedimentos consistem na remoção de parte da estrutura óssea da vértebra para aliviar a pressão sobre a medula.
Em alguns casos, como nas fraturas ou instabilidades vertebrais, pode ser necessário o uso de implantes ortopédicos como parafusos, pinos ou placas para estabilizar a coluna após a descompressão. Além disso, quando a lesão envolve a região cervical, a técnica pode variar, exigindo abordagem ventral com discectomia e fusão, conforme o quadro.
A taxa de sucesso da cirurgia de coluna em cães depende fortemente de fatores como o tempo decorrido entre o início dos sintomas e a cirurgia, a severidade da compressão e a presença ou não de dor profunda.
Cães que ainda apresentam dor profunda, mesmo que estejam paralisados, têm chances significativas de recuperação. Já aqueles que perderam totalmente a sensibilidade dolorosa profunda, especialmente se a cirurgia for tardia, possuem prognóstico mais reservado. Nesses casos, mesmo com cirurgia, a recuperação neurológica pode ser incompleta ou ausente.
O pós-operatório exige atenção intensa, incluindo manejo da dor, fisioterapia precoce, controle de micção, prevenção de escaras e infecções urinárias.
A fisioterapia tem papel crucial na recuperação neurológica e muscular, ajudando o animal a reaprender a andar e recuperar funções motoras. Em muitos casos, a reabilitação é um processo longo, que pode levar semanas ou meses, mas os avanços graduais são possíveis e, muitas vezes, surpreendentes.
É fundamental que os tutores estejam bem informados sobre o comprometimento necessário após uma cirurgia de coluna. Embora o procedimento possa parecer assustador, ele frequentemente representa a melhor, e às vezes única, chance de devolver autonomia e bem-estar ao cão. Por isso, a avaliação precoce por um médico veterinário com experiência em neurologia ou ortopedia é essencial diante de qualquer sinal de dor na coluna, rigidez, fraqueza ou alteração na marcha.
Referências bibliográficas:
Brisson, B. A. (2010). Intervertebral disc disease in dogs. Veterinary Clinics: Small Animal Practice, 40(5), 829–858.
Jeffery, N. D., Barker, A. K., Harcourt‐Brown, T. R., & Jeffery, R. (2014). Systematic review of prognostic factors for recovery in dogs with intervertebral disc extrusion. BMC Veterinary Research, 10(1), 1–8.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.
