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Cicatrização óssea em cães

Atualizado: 12 de set.

A cicatrização óssea em cães é um processo altamente organizado e dinâmico, que visa restaurar a integridade estrutural e funcional do osso após uma fratura, osteotomia ou outro tipo de agressão ao tecido ósseo.


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Ao contrário de muitos tecidos do corpo, o osso tem a capacidade de se regenerar sem deixar cicatriz, retornando à sua forma e resistência originais quando o ambiente de reparo é adequado. Contudo, esse processo pode ser lento e vulnerável a interferências, especialmente em casos de instabilidade, infecção, necrose óssea ou deficiências metabólicas.

Fases da cicatrização óssea

A cicatrização óssea segue quatro fases fisiológicas bem estabelecidas:

  1. Fase inflamatória (0–7 dias):Imediatamente após a fratura, há hemorragia local, formação de hematoma e liberação de mediadores inflamatórios. Essa fase é fundamental para recrutar células-tronco e iniciar o processo de reparação. O hematoma fraturário é rico em fatores de crescimento, como PDGF e TGF-β, que estimulam a formação do tecido de granulação.

  2. Fase de formação do calo mole (7–21 dias): As células osteoprogenitoras se diferenciam em condroblastos e osteoblastos. Forma-se um calo fibrocartilaginoso, que estabiliza parcialmente o foco de fratura. Essa fase é importante para consolidar a base biológica do reparo.

  3. Fase de formação do calo duro (3 a 6 semanas): O calo mole é gradualmente substituído por osso imaturo (osso trançado ou entrelaçado) por meio de ossificação endocondral e intramembranosa. A resistência do osso aumenta, e há mineralização progressiva.

  4. Fase de remodelação óssea (semanas a meses): O osso imaturo é lentamente substituído por osso lamelar, mais organizado e resistente. O processo é guiado pelas forças biomecânicas locais: as áreas submetidas a maior carga são reforçadas, enquanto o excesso de osso é reabsorvido. Em cães jovens e saudáveis, esse processo pode durar de 3 a 6 meses, podendo se estender em animais mais velhos ou em fraturas complicadas.

Tipos de consolidação óssea

  • Consolidação primária (por contato direto): ocorre quando há fixação rígida e ausência de movimento entre os fragmentos, como nas osteossínteses com placas compressivas. Ocorre remodelação óssea direta, sem formação de calo visível.

  • Consolidação secundária (por calo ósseo): ocorre quando há alguma movimentação controlada no foco de fratura, como com fixadores externos ou pinos intramedulares. É o tipo mais comum na clínica veterinária.

Fatores que influenciam a cicatrização

  • Positivos: estabilidade adequada, vascularização preservada, alinhamento anatômico, idade jovem, boa nutrição, ausência de infecção.

  • Negativos: movimento excessivo no foco de fratura, infecção (osteomielite), necrose óssea, fraturas expostas, desnutrição, doenças endócrinas, uso crônico de corticoides ou AINEs.

Complicações

  • Retardo de consolidação: quando o tempo de cicatrização excede o esperado.

  • Não união (pseudoartrose): quando a fratura não cicatriza espontaneamente, podendo haver formação de tecido fibroso entre os fragmentos.

  • Mal união: quando o osso cicatriza em posição incorreta, comprometendo a função.


Abordagem clínica


O tratamento das fraturas deve buscar o equilíbrio entre estabilidade biomecânica e preservação biológica. A escolha entre placa, pino, parafusos ou fixador externo depende do tipo e localização da fratura, idade do paciente, atividade e expectativa funcional.


O pós-operatório adequado, com controle da dor, repouso e reabilitação progressiva, é determinante para o sucesso da cicatrização.


Além disso, a suplementação com cálcio ou condroprotetores só deve ser feita sob orientação veterinária. Em cães saudáveis, uma dieta equilibrada já fornece os nutrientes necessários para a cicatrização óssea. O uso indiscriminado de suplementos pode prejudicar a homeostase mineral e atrapalhar o processo.


Conclusão


A cicatrização óssea em cães é um processo robusto, mas que depende de vários fatores para ocorrer de forma eficiente. O diagnóstico precoce da fratura, a escolha correta da técnica cirúrgica e o acompanhamento pós-operatório são pilares fundamentais para garantir a recuperação funcional completa e evitar sequelas.


Referências bibliográficas:


Johnson, A. L., & Houlton, J. E. F. (2004). AO Principles of Fracture Management in the Dog and Cat. Thieme.


Piermattei, D. L., Flo, G. L., & DeCamp, C. E. (2006). Brinker, Piermattei and Flo’s Handbook of Small Animal Orthopedics and Fracture Repair (4th ed.). Elsevier.


Sobre o autor


Dr. Felipe Garofallo, veterinário ortopedista, especializado no diagnóstico e tratamento de problemas articulares e musculoesqueléticos em cães

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.


Horário: Segunda à sexta, 09h às 18h. Sábados 10:00 às 14:00
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