Cão perdeu o equilíbrio de repente: e agora?

Quando um cão perde o equilíbrio de forma repentina, é natural que o tutor se assuste e fique sem saber o que fazer. A perda súbita de equilíbrio pode ser um sinal de um problema neurológico, vestibular, metabólico ou até ortopédico.

A forma como o animal apresenta esse desequilíbrio pode variar: alguns cães cambaleiam como se estivessem bêbados, outros chegam a cair de lado, não conseguem ficar em pé ou inclinam a cabeça para um dos lados. Em todos os casos, trata-se de um sinal clínico que merece atenção imediata.

Uma das causas mais comuns de perda de equilíbrio repentina em cães, especialmente em animais mais velhos, é a síndrome vestibular idiopática.

Essa condição afeta o sistema vestibular periférico — responsável pelo equilíbrio e orientação espacial — e costuma surgir de forma aguda. Os sinais incluem inclinação da cabeça, nistagmo (movimento involuntário dos olhos), ataxia (incoordenação motora) e, frequentemente, vômitos. Apesar de assustar bastante, essa síndrome pode melhorar espontaneamente em alguns dias, embora o diagnóstico deva sempre ser feito por um médico-veterinário, já que outras condições mais graves podem se apresentar de maneira semelhante.

Infecções no ouvido interno também podem desencadear sinais vestibulares. A otite média ou interna pode causar inflamação nas estruturas responsáveis pelo equilíbrio, levando o cão a perder a coordenação e apresentar sintomas como andar em círculos, inclinação da cabeça e relutância em mastigar ou abrir a boca. Se não tratada a tempo, a infecção pode se agravar e até comprometer estruturas neurológicas.

Distúrbios neurológicos centrais, como tumores cerebrais, encefalites, traumas cranianos ou acidentes vasculares cerebrais (AVCs), também estão entre as possibilidades. Esses quadros geralmente vêm acompanhados de outros sinais neurológicos, como alterações no estado de consciência, convulsões, movimentos involuntários ou paralisias.

O diagnóstico pode envolver exames avançados, como ressonância magnética ou tomografia computadorizada. Além disso, causas metabólicas como hipoglicemia (queda do açúcar no sangue), desequilíbrios eletrolíticos, intoxicações (por produtos de limpeza, plantas tóxicas ou até medicamentos) e hipotensão também podem levar à perda de equilíbrio.

Nesses casos, o cão pode apresentar fraqueza generalizada, confusão, salivação excessiva e até perda de consciência. Em filhotes, causas congênitas ou infecções virais como a cinomose podem ser responsáveis por alterações no equilíbrio. Já em cães idosos, doenças degenerativas ou vestibulopatias senis são mais prováveis.

Diante de um episódio de perda súbita de equilíbrio, o ideal é manter o animal em um local seguro, sem objetos com os quais ele possa se machucar, e buscar atendimento veterinário imediato.

O diagnóstico precoce é fundamental para que o tratamento adequado seja instituído rapidamente e as chances de recuperação sejam maiores. Não tente medicar o animal por conta própria, pois isso pode agravar o quadro ou dificultar a identificação da causa.

Independentemente da origem, o mais importante é lembrar que a perda de equilíbrio não é uma doença em si, mas um sinal de que algo está errado. Com avaliação clínica cuidadosa e, quando necessário, exames complementares, é possível identificar a causa e oferecer ao animal o suporte que ele precisa para se recuperar com qualidade de vida.

Referências bibliográficas:

Lorenz, M.D., Kornegay, J.N., & Dewey, C.W. (2011). Neurologic Examination and Localization. In: Handbook of Veterinary Neurology (5th ed.). Elsevier Health Sciences.

Platt, S. R., & Olby, N. J. (2013). BSAVA Manual of Canine and Feline Neurology (4th ed.). British Small Animal Veterinary Association.

Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.

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