Cão lambendo demais o local da cirurgia: como evitar complicações
- Felipe Garofallo

- 21 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 12 de out.
Quando um cão passa por um procedimento cirúrgico, seja ortopédico, neurológico ou de tecidos moles, é essencial que o tutor acompanhe de perto o processo de recuperação para garantir que tudo ocorra dentro do esperado.

Um dos comportamentos mais comuns e preocupantes nesse período é o ato do cão lamber insistentemente o local da cirurgia. Embora à primeira vista possa parecer algo inofensivo ou até instintivo, esse hábito pode trazer complicações sérias que comprometem todo o sucesso do procedimento.
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Voltando ao nosso tópico, o principal problema associado ao ato de lamber o local da cirurgia é o risco de infecção.
A boca dos cães, apesar de ter uma flora bacteriana natural, abriga uma série de microrganismos que, ao entrarem em contato com a ferida cirúrgica, podem colonizar o local e causar infecções que vão desde leves até quadros mais graves, como celulite, abscessos ou deiscência dos pontos.
Além disso, a ação mecânica da língua constantemente friccionando a pele suturada pode levar à abertura dos pontos, exposição de estruturas internas e necessidade de nova intervenção cirúrgica.
A lambedura constante também impede a formação adequada do tecido cicatricial, prolongando o processo de cicatrização e gerando inflamação persistente.
Em alguns casos, pode levar ao desenvolvimento de granulomas de lambedura ou necrose local, o que complica ainda mais o quadro clínico e pode demandar tratamentos prolongados com antibióticos, curativos ou até novas cirurgias reconstrutivas.
Para evitar essas complicações, é fundamental utilizar colares de proteção (como o colar elizabetano ou versões infláveis mais confortáveis) durante o período pós-operatório.
Esses dispositivos atuam como barreira física, impedindo que o animal alcance a ferida com a boca. Também é importante manter o cão sob supervisão constante, principalmente nos primeiros dias, e redirecionar sua atenção com passeios leves (quando permitidos), brinquedos ou companhia para minimizar o estresse e a ansiedade que podem aumentar a compulsão por lamber.
Outra medida preventiva é o controle eficaz da dor e do desconforto. Um cão que sente dor ou coceira no local operado tende a lamber mais.
Por isso, seguir à risca o protocolo de medicação prescrito pelo médico veterinário, com anti-inflamatórios, analgésicos e, quando indicado, antibióticos, é essencial para garantir o conforto do animal e reduzir esse comportamento.
Em casos mais persistentes, pode ser necessário o uso de bandagens protetoras sobre a ferida, desde que aplicadas corretamente e trocadas com a frequência recomendada.
Em situações extremas, até medicamentos ansiolíticos podem ser considerados como parte do manejo, principalmente se o cão apresentar quadros de ansiedade severa ou comportamento compulsivo.
O sucesso do pós-operatório depende não apenas da habilidade cirúrgica do veterinário, mas também da vigilância e cuidado dos tutores no ambiente domiciliar.
Ignorar ou subestimar o ato de o cão lamber demais o local da cirurgia pode colocar todo o tratamento a perder. Portanto, ao perceber esse comportamento, é importante agir rapidamente e buscar orientação profissional para evitar que uma recuperação simples se transforme em um desafio clínico complexo.
Referências bibliográficas:
Fossum, T. W. (2018). Small Animal Surgery. 5th ed. Elsevier.
Mathews, K. A., & Sinclair, M. D. (2014). Pain management and postoperative care. In: Veterinary Surgery: Small Animal, 2nd ed., Elsevier.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.
