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Calo ósseo em cães

Atualizado: 12 de set.

O calo ósseo em cães é uma estrutura temporária, formada durante o processo de consolidação de fraturas, e desempenha papel essencial na regeneração do osso.


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O calo ósseo representa a resposta fisiológica do organismo à fratura, sendo composto inicialmente por tecido conjuntivo e cartilaginoso, que aos poucos se transforma em tecido ósseo maduro.


O sucesso da cicatrização óssea depende, em grande parte, da formação e evolução adequada desse calo.


Quando ocorre uma fratura, há ruptura não apenas da estrutura óssea, mas também dos vasos sanguíneos e tecidos ao redor.


O processo de reparo começa imediatamente com a formação de um hematoma fraturário, que contém fatores de crescimento, células inflamatórias e progenitoras. Esse ambiente estimula a diferenciação celular e o recrutamento de osteoblastos, os quais iniciarão a deposição de matriz osteoide. A partir daí, forma-se o chamado calo primário ou calo mole, composto principalmente por tecido fibroso e cartilagem.


Com o tempo e sob estímulo mecânico adequado, esse calo mole é gradualmente mineralizado, dando origem ao calo duro, um osso imaturo (osso entrelaçado ou reticulado) que já confere alguma estabilidade ao foco da fratura. Esse processo é conhecido como ossificação endocondral, e sua qualidade depende diretamente da vascularização local, da estabilidade mecânica e da preservação do ambiente biológico.


A formação de calo ósseo é característica da consolidação secundária, ou seja, ocorre em fraturas tratadas com métodos que proporcionam estabilidade relativa, permitindo micro movimentos controlados no foco de fratura. Exemplos incluem a imobilização com talas, o uso de fixadores externos e a técnica de ponte de placa (biological osteosynthesis). Nessas condições, o organismo responde produzindo um calo visível e progressivamente mais resistente.


Por outro lado, nas fraturas tratadas com estabilidade absoluta, como com a aplicação de placas com compressão interfragmentária, busca-se a consolidação primária, sem formação visível de calo. Nesses casos, a cicatrização ocorre por remodelação óssea direta, com união dos fragmentos sem necessidade de tecido intermediário.


A avaliação clínica e radiográfica do calo ósseo permite acompanhar o progresso da consolidação. Radiograficamente, ele começa a ser visível entre 7 e 10 dias após a fratura em cães jovens, e um pouco mais tarde em cães adultos. Inicialmente tem aparência irregular e opaca, mas vai se organizando e se tornando mais denso à medida que o osso amadurece. Em geral, a consolidação completa com remodelação pode levar de 6 a 12 semanas, dependendo da idade do animal, do tipo de fratura e do método de estabilização.


Em alguns casos, o calo ósseo pode se tornar excessivo, formando o chamado calo exuberante. Isso pode ocorrer em fraturas instáveis, com micromovimentos exagerados, ou em locais de intensa resposta biológica.


Embora muitas vezes benigno, calos excessivos podem comprimir estruturas adjacentes, como nervos, ou interferir na função articular, especialmente se estiverem muito próximos de uma articulação. Nessas situações, pode ser necessário intervenção cirúrgica para remodelação.


Em contrapartida, a ausência ou escassez de calo pode indicar retardo de consolidação ou pseudoartrose, especialmente quando há falhas no suprimento sanguíneo, infecções, implantes instáveis ou necrose óssea. Nesses casos, o monitoramento radiográfico, a reavaliação do plano terapêutico e, em alguns casos, a revisão cirúrgica são indispensáveis.


Em resumo, o calo ósseo é uma estrutura indispensável para a regeneração óssea em fraturas tratadas com estabilidade relativa. Seu desenvolvimento adequado depende do equilíbrio entre biomecânica e biologia, e sua avaliação criteriosa é fundamental para o sucesso terapêutico em ortopedia veterinária.


Referências bibliográficas:


Piermattei, D. L., Flo, G. L., & DeCamp, C. E. (2006). Brinker, Piermattei and Flo's Handbook of Small Animal Orthopedics and Fracture Repair. 4ª ed. Elsevier.


Johnson, A. L., & Hulse, D. A. (2002). Fracture Management in Small Animals. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, 32(4), 889–901.


Sobre o autor


Dr. Felipe Garofallo, veterinário ortopedista, especializado no diagnóstico e tratamento de problemas articulares e musculoesqueléticos em cães

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.


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