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Cães sentem dor fantasma depois da amputação?

Atualizado: 28 de set.

A dor fantasma é um fenômeno reconhecido em medicina humana, no qual pacientes que sofreram amputações relatam sentir dor em membros que já não existem. Esse tipo de dor é considerada uma experiência neurológica real, causada pela reorganização do sistema nervoso central após a perda de uma parte do corpo.


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No contexto da medicina veterinária, uma das grandes questões é se os cães também experimentam essa forma de dor após amputações e embora eles não possam verbalizar o que sentem, evidências clínicas e comportamentais sugerem que sim, cães podem apresentar dor fantasma.


A principal dificuldade no diagnóstico de dor fantasma em cães está na limitação da comunicação. Como eles não conseguem descrever suas sensações, o reconhecimento desse tipo de dor depende da observação cuidadosa do comportamento.


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Voltando ao nosso tópico, cães que lambem ou mordem insistentemente a região do membro amputado, choramingam sem motivo aparente, demonstram inquietação frequente ou reagem com agressividade ao toque na área da amputação podem estar manifestando dor neuropática, da qual a dor fantasma é uma das formas possíveis.


É importante distinguir esses comportamentos de outros problemas, como dor residual da cirurgia, inflamações locais ou complicações na cicatrização.


A dor fantasma é considerada uma dor de origem central, envolvendo alterações no cérebro e na medula espinhal que permanecem mesmo após a remoção do membro. O cérebro continua enviando sinais para a área amputada, como se ela ainda estivesse presente.


Isso ocorre por conta da plasticidade neural, ou seja, da capacidade do sistema nervoso de se reorganizar após lesões. Em humanos, essa reorganização pode causar a percepção de dor, calor, formigamento ou pressão em uma parte do corpo que já não existe mais. Em cães, comportamentos como rosnar para o ar, mudanças posturais repentinas ou inquietação sem causa visível podem ser interpretados como possíveis manifestações de dor fantasma.


Do ponto de vista terapêutico, o manejo da dor fantasma em cães é desafiador e exige uma abordagem multimodal. Analgésicos convencionais, como anti-inflamatórios não esteroidais, muitas vezes não são eficazes por se tratar de um tipo de dor neuropática.


Nesses casos, são indicados medicamentos que atuam especificamente na dor de origem nervosa, como gabapentina, pregabalina, amitriptilina ou tramadol, dependendo do perfil clínico do paciente. O uso de terapias complementares, como acupuntura e laserterapia, também pode trazer alívio, especialmente quando associados a um protocolo contínuo de reabilitação física e emocional.


Prevenir a dor fantasma pode ser difícil, mas alguns especialistas acreditam que o controle rigoroso da dor no período perioperatório pode ajudar a reduzir o risco.


Manter o animal bem medicado antes, durante e após a amputação, com analgésicos de ação central, pode reduzir a sensibilização do sistema nervoso e, assim, minimizar a chance de que ele registre padrões persistentes de dor.


É importante que os tutores sejam orientados a observar atentamente os comportamentos do cão após a amputação.


Mudanças no apetite, alterações no sono, episódios de agitação sem motivo, vocalizações espontâneas ou foco excessivo na região operada podem ser sinais sutis, mas relevantes. O acompanhamento com veterinário especializado em dor ou neurologia é fundamental nos casos em que a dor parece persistente ou difícil de controlar.


Embora os estudos sobre dor fantasma em cães ainda sejam limitados, a crescente atenção que a medicina veterinária tem dado à dor neuropática reforça a importância de reconhecer e tratar essas manifestações.


Assim como nos humanos, o sofrimento do cão pode não ser visível, mas é real e a empatia, aliada ao conhecimento técnico, é essencial para garantir a melhor qualidade de vida possível aos animais amputados.


Referências bibliográficas:


Mathews, K. A. (2008). Neuropathic pain in dogs and cats: if only they could tell us if they hurt. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, 38(6), 1365–1414.


Klinck, M. P., & Troncy, E. (2016). Neuropathic pain in veterinary medicine: An emerging concept. The Canadian Veterinary Journal, 57(4), 397–399.


Sobre o autor


Dr. Felipe Garofallo, veterinário ortopedista, especializado no diagnóstico e tratamento de problemas articulares e musculoesqueléticos em cães

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.


Horário: Segunda à sexta, 09h às 18h. Sábados 10:00 às 14:00
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