Cães com displasia coxofemoral sentem dor o tempo todo?
- Felipe Garofallo

- 9 de jul.
- 2 min de leitura
Atualizado: 12 de set.
A displasia coxofemoral é uma condição ortopédica comum em cães, especialmente em raças de médio e grande porte, caracterizada por uma má formação da articulação do quadril.

Em vez de encaixarem perfeitamente, a cabeça do fêmur e o acetábulo da pelve apresentam frouxidão e incongruência, o que leva a instabilidade articular, desgaste progressivo da cartilagem e, com o tempo, à formação de artrose. Mas será que os cães com displasia sentem dor o tempo todo?
A resposta é: não necessariamente. A dor da displasia pode ser intermitente, variar de intensidade ao longo da vida e se manifestar de formas diferentes em cada animal. Há cães com displasia avançada e grave nas radiografias que apresentam poucos sintomas, enquanto outros com alterações discretas podem demonstrar muito desconforto. Isso ocorre porque a dor não depende apenas do grau de deformidade óssea, mas também da inflamação local, da sensibilidade individual, do nível de atividade do animal e da presença de sobrepeso ou outras comorbidades.
Nos estágios iniciais, a dor costuma ser relacionada à instabilidade articular. O cão pode demonstrar cansaço precoce, relutar para subir escadas, pular no sofá ou fazer caminhadas mais longas. É comum que ele sinta mais desconforto ao levantar após repouso prolongado ou após atividades físicas intensas, mas melhore com o movimento.
Esses são sinais clássicos de dor intermitente, que vai e volta conforme a articulação é exigida.
Com a evolução da doença, a cartilagem articular se desgasta, e surgem alterações degenerativas — como osteófitos e espessamento ósseo — que causam dor crônica. Nessa fase, alguns cães passam a demonstrar desconforto mais constante, mancando mesmo em repouso ou evitando movimentos simples do dia a dia.
Em casos avançados, há perda de massa muscular, rigidez nos membros e até alterações comportamentais, como irritabilidade ou isolamento, resultado de um quadro doloroso persistente.
Apesar disso, é importante lembrar que os cães raramente vocalizam ou “choram” por dor crônica. Em vez disso, eles demonstram de forma sutil: diminuindo o ritmo, mudando a forma de caminhar, evitando movimentos ou se deitando em posições incomuns. Por isso, a avaliação do veterinário ortopedista é fundamental para identificar se há dor presente, mesmo que o tutor não perceba sinais evidentes.
O controle da dor em cães com displasia é possível e pode trazer grande melhora na qualidade de vida. Isso inclui desde anti-inflamatórios, analgésicos e condroprotetores até terapias complementares como fisioterapia, acupuntura, perda de peso, uso de rampas e mudanças no ambiente. Em casos mais graves, a cirurgia pode ser indicada — como a colocefalectomia, a osteotomia pélvica ou, em situações específicas, a prótese total de quadril.
Portanto, embora cães com displasia coxofemoral não sintam dor o tempo todo, muitos convivem com graus variáveis de desconforto — e, quanto mais cedo forem diagnosticados e tratados, melhor será a resposta ao controle da dor e à preservação da função articular.
Referências bibliográficas:
– Johnston SA, Tobias KM. Veterinary Surgery: Small Animal. 2nd ed. Elsevier; 2017.
– Millis DL, Levine D. Canine Rehabilitation and Physical Therapy. 2nd ed. Elsevier; 2014.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.