Cachorro mancando depois do banho: é comum?
- Felipe Garofallo

- há 5 dias
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Cachorros podem mancar depois do banho, e isso é mais comum do que parece, principalmente quando o tutor percebe uma mudança de comportamento logo após o secador, a toalha ou o momento em que o animal sai da banheira.

Esse mancar repentino costuma gerar preocupação imediata, mas nem sempre está relacionada ao banho em si; muitas vezes, ela apenas coincide com movimentos específicos feitos durante o processo, que acabam evidenciando uma dor pré-existente.
Uma explicação muito frequente é a presença de dores articulares que já estavam ali antes do banho, mas ainda discretas.
Cães em início de ruptura parcial do ligamento cruzado cranial, com inflamações leves no joelho ou início de desgaste articular podem sentir dor quando a pata é manipulada, levantada ou mantida apoiada por mais tempo em um único membro.
Esse tipo de sobrecarga, que normalmente não chamaria tanta atenção durante o dia, torna-se mais evidente no banho porque o animal precisa manter posturas diferentes do habitual. Nesses casos, o banho não causa a lesão; apenas desencadeia um movimento que revela o problema.
Outra possibilidade comum é o escorregão leve dentro da banheira ou do box. Mesmo com um tutor ou profissional cuidadoso, o ambiente molhado oferece menos aderência, e basta um deslize pequeno, muitas vezes imperceptível, para gerar uma distensão muscular ou um incômodo momentâneo.
Assim como acontece com humanos, não é preciso cair para sentir dor depois. Isso não significa falha ou descuido; é simplesmente uma condição normal de um piso molhado.
Há também cães que ficam tensos ou ansiosos durante o banho, seja pelo barulho do secador, pela manipulação constante ou por não gostarem do processo.
A contração muscular prolongada pode gerar rigidez temporária, e o tutor percebe isso como uma mancar discreta que costuma desaparecer após algumas horas de descanso. Nesse caso, não há lesão ortopédica, mas uma resposta fisiológica ao estresse.
Dores de coluna também podem se manifestar mais claramente no pós-banho. Movimentos como erguer a traseira, segurar o quadril, apoiar a mão na região lombar ou permitir que o cão pule da bancada podem desencadear desconforto em animais predispostos a hérnia de disco, instabilidade lombossacra, etc. O banho não causa a lesão, mas pode a tornar evidente a dor quando o animal faz um movimento brusco para sair do ambiente.
O principal é observar o padrão: se a mancar melhora rapidamente e desaparece em algumas horas, geralmente não é um problema sério. Mas se o cão continua mancando por mais de 24 horas, se evita apoiar a pata, se demonstra dor intensa ao toque ou se esse tipo de episódio se repete, é essencial buscar uma avaliação ortopédica.
Muitas lesões importantes, especialmente as de joelho, começam exatamente assim: com um “pequeno incômodo” que aparece após um movimento simples.
E é fundamental reforçar: não é correto culpar pet shops ou profissionais do banho e tosa. Na maioria absoluta dos casos, o banho não causa a lesão; apenas coincide com a expressão de um problema que já existia ou que se manifestou por uma circunstância comum do ambiente.
O papel do tutor é observar, monitorar e, caso necessário, buscar orientação veterinária.
Quando existe dúvida, a avaliação ortopédica traz clareza, descarta problemas sérios e tranquiliza a família. Às vezes, o banho apenas revela aquilo que o corpo do cão já tentava comunicar.
Referências bibliográficas
– Fossum, T.W. Small Animal Surgery. 5th ed. Elsevier, 2019.
– Johnston, S.A., Tobias, K.M. Veterinary Surgery: Small Animal. 2nd ed. Elsevier, 2017.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.