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Cachorro mancando depois de pular do sofá: o que pode ser?

Quando um cachorro pula do sofá e começa a mancar logo depois, o tutor naturalmente se assusta. A cena costuma acontecer de forma rápida: o cão salta, apoia de maneira inadequada, reclama de dor ou simplesmente começa a evitar pisar na pata.


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Embora muitos tutores imaginem que possa ser “só um susto”, a verdade é que o ato de pular de superfícies, mesmo que pareçam baixas, pode gerar desde pequenas torções até lesões ortopédicas sérias, especialmente em cães jovens, ativos, idosos, com sobrepeso ou pertencentes a raças predispostas.


O mancar pós-salto é sempre um sinal de alerta, porque o impacto direto no solo pode produzir microlesões que, se ignoradas, evoluem para problemas mais complexos no joelho, quadril, ombro ou coluna.


Em muitos casos, a causa é uma simples entorse, uma torção momentânea dos ligamentos que provoca dor moderada e dificuldade de apoiar a pata. Nesses episódios, o cão geralmente melhora em alguns dias, embora a inflamação possa deixá-lo mais quieto e relutante para andar, correr ou subir escadas. Porém, quando a mancar persiste, piora ou o cão para completamente de apoiar o membro, a probabilidade de uma lesão estrutural aumenta consideravelmente.


Entre as causas mais comuns está a ruptura do ligamento cruzado cranial, uma das principais afecções ortopédicas em cães. O movimento de aterrissagem após o salto pode gerar um deslocamento brusco no joelho, capaz de romper parcial ou totalmente o ligamento, o que se traduz imediatamente em dor, instabilidade e incapacidade de firmar a pata no chão.


Outra possibilidade frequente é a luxação de patela, especialmente em cães de pequeno porte. No salto, a patela pode “sair do lugar” momentaneamente, fazendo com que o cão sinta desconforto.


Enquanto isso, nos cães maiores e mais pesados, o impacto do salto pode desencadear ou agravar lesões no quadril, como microinstabilidades relacionadas à displasia coxofemoral, quadro que muitas vezes o tutor nem sabia que existia até notar a mancar súbita.


Além das articulações, o salto pode afetar tendões, músculos e até a coluna. Lesões de ombro, como tendinite bicipital, são muito comuns em cães que aterrissam com a pata anterior estendida. Os impactos repetidos também podem desencadear dor lombar ou cervical, principalmente em cães com predisposição a hérnia de disco.


Em alguns animais, a dor é tão intensa que o tutor nota tremores, inquietação, arqueamento do dorso ou dificuldade até para se deitar e levantar. Esses sinais, associados à mancar, indicam a necessidade de avaliação imediata.


É importante lembrar que nem sempre a gravidade da lesão corresponde à intensidade da dor demonstrada pelo cão. Alguns animais são muito resistentes e continuam andando mesmo com rupturas ligamentares; outros, por sensibilidade ou susto, param de apoiar a pata mesmo em casos mais leves.


Por isso, observar o comportamento nas primeiras horas após o salto é fundamental. Se o cão não apoia a pata, se a dor persiste no dia seguinte, se há aumento de volume, crepitação, sensibilidade extrema ao toque ou se o animal fica apático, o ideal é agendar uma avaliação ortopédica o quanto antes.


Quanto mais cedo o diagnóstico for feito, menor o risco de agravamento, principalmente no caso de lesões de joelho ou coluna.


O tratamento vai depender diretamente da causa identificada no exame clínico e, quando necessário, dos exames de imagem.


Entorses e lesões musculares leves costumam responder bem ao repouso, anti-inflamatórios e controle de movimentos nos primeiros dias. Já quadros como ruptura de ligamento cruzado cranial, luxação de patela avançada, lesões de ombro persistentes ou agravamento de displasia podem exigir tratamentos específicos que vão desde fisioterapia até cirurgia.


O mais importante é não ignorar a mancar e não esperar que o problema “resolva sozinho”, porque muitos cães compensam a dor de um membro sobrecarregando outros, criando uma cadeia de lesões secundárias.


Em resumo, se o seu cachorro pulou do sofá e começou a mancar, considere isso um sinal legítimo de que algo pode ter acontecido. Mesmo quedas aparentemente simples podem gerar lesões articulares, ligamentares ou musculares importantes e até fraturas dependendo o tamanho do cão.


Observar o comportamento, evitar novos esforços e procurar avaliação especializada são as melhores atitudes para garantir uma recuperação rápida e segura.


Quanto antes a causa for identificada, melhores serão as chances de um tratamento eficaz e de prevenir complicações que poderiam comprometer o bem-estar e a mobilidade do seu melhor amigo.

Referências bibliográficas – Piermattei DL, Flo GL, DeCamp CE. Brinker, Piermattei, and Flo’s Handbook of Small Animal Orthopedics and Fracture Repair. 5th ed. Saunders; 2016. – Fossum TW. Small Animal Surgery. 5th ed. Elsevier; 2019.


Sobre o autor


Dr. Felipe Garofallo, veterinário ortopedista, especializado no diagnóstico e tratamento de problemas articulares e musculoesqueléticos em cães

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.


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