Cachorro com dor depois do banho e tosa: o que pode ser?
- Felipe Garofallo

- 20 de set.
- 3 min de leitura
Um cachorro que começa a demonstrar dor depois de um banho e tosa frequentemente desperta preocupação imediata nos tutores, mas é importante compreender que esse momento pode ser apenas a ocasião em que o problema ficou evidente, e não necessariamente a causa da dor.

Muitas alterações musculoesqueléticas, neurológicas ou até dermatológicas podem estar presentes de forma silenciosa e só se manifestarem quando o animal passa por manipulação, mudança de rotina ou quando o tutor passa a observar o pet mais de perto, especialmente após a retirada do excesso de pelo, que deixa a pele e os movimentos mais visíveis.
As doenças ortopédicas e articulares estão entre as principais causas de dor percebida nessa situação. Alterações como displasia coxofemoral, luxação de patela, ruptura de ligamento cruzado cranial e artrose em articulações dos quadris, joelhos e coluna são relativamente comuns, principalmente em cães idosos ou de raças predispostas.
Nesses casos, o desconforto pode estar presente de forma leve e constante, mas se intensificar após algum esforço, movimento brusco ou manipulação.
Da mesma forma, problemas na coluna, como hérnia de disco, instabilidade vertebral ou espondilose, podem se manifestar com rigidez, dificuldade para se levantar e até vocalização de dor após um estímulo aparentemente banal.
Também é preciso considerar as lesões musculares e microtraumas, que muitas vezes passam despercebidos no dia a dia. Um escorregão, um salto mal calculado, uma corrida mais intensa ou até brincadeiras podem causar distensões musculares ou sobrecarga articular.
Esses episódios nem sempre são percebidos pelos tutores, mas a dor pode se manifestar em momentos posteriores, como depois de um banho e tosa, quando o cão é manipulado para ser colocado em diferentes posições ou simplesmente porque o tutor passa a observá-lo com mais atenção.
As alterações cutâneas representam outra fonte possível de dor. Com o pelo tosado, pequenas escoriações, dermatites, picadas de insetos ou alergias ficam mais visíveis e, muitas vezes, mais fáceis de identificar ao toque.
O tutor pode interpretar o incômodo como dor nova, quando na verdade o animal já convivia com a lesão, apenas encoberta pelo pelo.
É importante reforçar que, em muitos casos, a dor que o tutor percebe após um banho e tosa não foi causada pelo procedimento, mas sim revelada por ele.
A tosa facilita a visualização do corpo do animal, e o contato mais intenso durante o banho pode evidenciar regiões doloridas.
Além disso, cães que já apresentam doenças crônicas ou predisposições ortopédicas podem ter um agravamento temporário da dor após qualquer atividade de contenção, mas isso funciona como um sinal de alerta para investigar o que já estava acontecendo no organismo.
Quando o cão demonstra dor, seja ficando mais quieto, evitando movimentos, chorando ao ser tocado, apresentando dificuldade para caminhar, rigidez muscular ou até tremores. Nesses casos, o ideal é buscar avaliação veterinária.
O profissional poderá realizar exame físico detalhado e solicitar exames de imagem, como radiografias ou ultrassonografias, que ajudam a identificar doenças articulares, ósseas ou musculares.
Em alguns casos, exames laboratoriais também são importantes, principalmente quando há suspeita de doenças inflamatórias ou infecciosas que possam afetar músculos e articulações.
O tratamento dependerá da causa diagnosticada, podendo incluir desde analgésicos e anti-inflamatórios até protocolos mais complexos, como fisioterapia, acupuntura, controle de peso, suplementos articulares ou mesmo intervenção cirúrgica em casos de doenças ortopédicas graves.
Em situações cutâneas, o manejo pode envolver medicações tópicas, antibióticos ou controle de alergias.
Em resumo, quando um cachorro apresenta dor depois do banho e tosa, é mais correto interpretar esse momento como a oportunidade de perceber uma alteração já existente, e não como a origem do problema.
A atenção do tutor é fundamental, mas o diagnóstico definitivo só pode ser feito por um médico-veterinário. Identificar precocemente a causa da dor permite tratar de forma adequada, melhorar a qualidade de vida do animal e evitar que pequenos desconfortos evoluam para quadros mais graves e limitantes.
Referências bibliográficas
Fossum, T. W. (2019). Small Animal Surgery. 5th ed. Elsevier.
Johnston, S. A., & Tobias, K. M. (2018). Veterinary Surgery: Small Animal. 2nd ed. Elsevier.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.