Cachorro com a pata quebrada: tratar com tala ou operar?
- Felipe Garofallo

- 11 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 12 de set.
Quando um cachorro sofre uma fratura, uma das principais dúvidas que surgem entre tutores e até profissionais é: o tratamento ideal deve ser feito com tala ou com cirurgia?

A resposta não é única, pois depende de diversos fatores, como o tipo de fratura, o osso afetado, a idade e o porte do animal, além do nível de atividade e das condições clínicas do paciente. Escolher entre imobilização com tala ou intervenção cirúrgica é uma decisão que deve ser baseada em uma avaliação criteriosa, realizada por um médico-veterinário, preferencialmente com experiência em ortopedia.
Fraturas simples, sem deslocamento significativo e que envolvem ossos longos em regiões que permitem boa estabilização externa, como tíbia ou rádio, podem ser tratadas com talas ou outros métodos de imobilização externa. Isso é mais comum em animais de pequeno porte, filhotes ou em casos onde a estabilidade obtida com a tala é considerada suficiente para permitir a formação do calo ósseo e a consolidação adequada.
No entanto, mesmo nesses casos, o posicionamento exato dos fragmentos ósseos e a resposta inflamatória inicial precisam ser acompanhados de perto, com reavaliações clínicas e radiográficas periódicas.
Por outro lado, fraturas instáveis, cominutivas (em vários fragmentos), fraturas articulares ou aquelas localizadas em ossos que suportam grande carga — como o fêmur ou o úmero em cães de médio e grande porte — geralmente exigem tratamento cirúrgico.
A cirurgia ortopédica permite a fixação interna com pinos, placas ou hastes intramedulares, promovendo uma estabilização mais rígida e acelerando o processo de recuperação funcional. Em animais muito ativos ou que não tolerariam bem a imobilização prolongada, a cirurgia também costuma ser a melhor escolha para evitar complicações, como retardo na consolidação óssea ou atrofia muscular.
Outro fator determinante é a colaboração do tutor e as condições do ambiente doméstico. O sucesso do tratamento conservador com tala exige repouso absoluto, monitoramento rigoroso da tala para evitar escaras ou deslocamentos e um bom controle da dor. Em muitos casos, principalmente com cães agitados, o tratamento cirúrgico, mesmo sendo mais invasivo e custoso, pode trazer melhores resultados e menos risco de falhas no processo de cicatrização óssea.
Além disso, o tempo de recuperação e a qualidade do retorno à função do membro fraturado também influenciam na escolha. Cirurgias bem indicadas e executadas com técnicas adequadas geralmente proporcionam um retorno mais rápido e seguro da mobilidade, enquanto as talas podem demandar períodos mais longos de imobilização e fisioterapia, especialmente em casos mais complexos.
Por fim, é fundamental lembrar que cada fratura deve ser considerada única. Radiografias em diferentes projeções, avaliação do perfil do paciente e, se necessário, exames complementares como tomografia computadorizada, ajudam o ortopedista veterinário a tomar a decisão mais adequada.
O mais importante é que o tratamento — seja com tala ou cirurgia — promova a melhor recuperação funcional possível, com o menor risco de sequelas a longo prazo.
Referências bibliográficas:
Piermattei, D. L., Flo, G. L., & DeCamp, C. E. (2006). Brinker, Piermattei and Flo's Handbook of Small Animal Orthopedics and Fracture Repair. 4ª ed. Saunders Elsevier.
Fossum, T. W. (2013). Small Animal Surgery. 4ª ed. Elsevier.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.