Cão com a pata torta: o que pode ser?
- Felipe Garofallo
- 11 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 12 de set.
Quando um cão apresenta uma pata torta, isso pode ser um sinal de diversos problemas ortopédicos, neurológicos ou mesmo de má-formação congênita.
Em muitos casos, a alteração na conformação do membro é notada desde filhote, mas também pode surgir de maneira progressiva ou repentina em cães adultos, especialmente após traumas ou doenças crônicas. A observação cuidadosa do comportamento do animal, associada a exames clínicos e de imagem, é fundamental para identificar a causa do desvio e estabelecer o tratamento mais adequado.
Entre os diagnósticos diferenciais mais comuns para patas tortas em cães estão as deformidades angulares dos membros. Essas ocorrem geralmente durante a fase de crescimento, quando há interrupção assimétrica do crescimento ósseo, frequentemente devido a traumas nas cartilagens de crescimento.
Cães de raças pequenas e de membros curtos, como Shih Tzu, Lhasa Apso e Bulldog Francês, são particularmente predispostos. Nesses animais, é comum que os ossos do antebraço — rádio e ulna — cresçam em ritmos diferentes, levando ao encurvamento da pata, desvio do cotovelo ou até rotação do carpo (punho).
Outra possibilidade é a presença de má-formações congênitas, como a hemimelia, que consiste na ausência parcial ou completa de porções de ossos longos, afetando a estrutura e a função do membro.
Nessas situações, o cão pode nascer com a pata encurvada, com número anormal de dedos ou mesmo com falta de articulações importantes. Tais alterações geralmente requerem avaliação ortopédica especializada desde os primeiros meses de vida para se considerar opções como órteses, reabilitação ou correções cirúrgicas.
Traumas também são causas frequentes de patas tortas, especialmente quando não tratados corretamente. Uma fratura que cicatriza em posição inadequada (conhecida como calo ósseo vicioso) pode alterar o eixo do membro e levar a um padrão de marcha anormal. Em casos mais graves, como nas fraturas expostas, além da deformidade, há risco de infecções, dor crônica e perda de funcionalidade. Por isso, qualquer lesão traumática deve ser prontamente avaliada e tratada por um médico veterinário.
Doenças articulares crônicas, como a displasia coxofemoral e a luxação patelar, também podem contribuir para alterações na postura e no alinhamento das patas. Um cão com dor crônica tende a redistribuir seu peso e alterar sua mecânica de locomoção, o que, a longo prazo, pode resultar em desalinhamentos visíveis nos membros.
Em filhotes, doenças metabólicas como o raquitismo — geralmente causadas por deficiência de vitamina D, cálcio ou fósforo — podem levar ao enfraquecimento dos ossos em crescimento, resultando em patas arqueadas.
Por fim, não se pode descartar as causas neurológicas. Quando há lesões na medula espinhal ou nos nervos periféricos, o tônus muscular e o controle motor dos membros podem ser afetados, levando a posturas anormais, como flexão excessiva ou arrasto de uma das patas. Nestes casos, a deformidade costuma ser acompanhada de outros sinais clínicos, como fraqueza, incoordenação ou perda de reflexos.
Diante de tantas possibilidades, a melhor conduta é buscar uma avaliação ortopédica ou neurológica especializada assim que se notar que o cão está com a pata torta.
Radiografias, tomografia computadorizada, ressonância magnética e testes neurológicos são ferramentas importantes para fechar o diagnóstico. O tratamento vai depender da causa identificada e pode variar desde acompanhamento clínico e fisioterapia até intervenções cirúrgicas corretivas.
Referências bibliográficas:
Fossum, T. W. (2021). Small Animal Surgery. 5th ed. Elsevier.
Brinker, W. O., Piermattei, D. L., & Flo, G. L. (2006). Handbook of Small Animal Orthopedics and Fracture Repair. 4th ed. Saunders.
Sobre o autor
Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.