Cachorro andando em círculos: pode ser algo neurológico?
- Felipe Garofallo

- 9 de jul.
- 2 min de leitura
Atualizado: 12 de set.
Ver um cachorro andando em círculos repetidamente pode parecer, à primeira vista, apenas um comportamento curioso ou uma brincadeira. No entanto, quando esse padrão se repete com frequência ou de forma compulsiva, pode ser um sinal de alerta importante — inclusive para doenças neurológicas.

Esse tipo de comportamento pode ter várias causas, desde as mais simples, como o cachorro tentando alcançar a própria cauda, até distúrbios mais sérios, que envolvem o sistema nervoso central, o ouvido interno ou até o comportamento compulsivo.
Uma das causas mais frequentes e relevantes de andar em círculos está relacionada a problemas vestibulares. O sistema vestibular é responsável pelo equilíbrio e orientação espacial do animal, e distúrbios nessa região — como a síndrome vestibular periférica ou central — podem causar perda de equilíbrio, inclinação da cabeça, andar em círculos e nistagmo (movimento involuntário dos olhos). Esses quadros são mais comuns em cães idosos, mas podem ocorrer em qualquer idade, especialmente se houver otites graves ou infecções envolvendo o labirinto.
Além disso, doenças neurológicas como encefalites, tumores cerebrais, traumas cranianos ou acidentes vasculares também podem gerar esse tipo de comportamento. Nesses casos, o andar em círculos geralmente vem acompanhado de outros sinais, como desorientação, alterações no estado de consciência, convulsões ou dificuldade para reconhecer comandos simples.
Quanto mais unilateral e persistente for o giro (sempre para o mesmo lado, por exemplo), maior é a chance de haver um comprometimento neurológico.
Doenças hepáticas também não devem ser descartadas.
Em casos de encefalopatia hepática, por exemplo, o acúmulo de substâncias tóxicas que o fígado doente não consegue metabolizar pode afetar o cérebro, levando a sinais como andar em círculos, andar cambaleante, apatia e até coma em estágios avançados.
Por outro lado, há situações comportamentais ou compulsivas em que o cão desenvolve esse hábito por estresse, ansiedade ou por falta de estímulo ambiental.
Cães confinados por muito tempo, privados de interações sociais e passeios, podem desenvolver comportamentos repetitivos como rodar, morder a cauda ou lamber obsessivamente as patas. Embora não seja uma doença neurológica estrutural, esse tipo de compulsão também exige acompanhamento profissional e mudanças no manejo do animal.
Por isso, se o seu cachorro começou a andar em círculos com frequência ou de forma intensa, não ignore.
Mesmo que pareça algo inofensivo, esse comportamento pode ser a forma que o corpo encontrou de sinalizar que algo não está bem. O ideal é procurar um médico-veterinário com experiência em neurologia, que possa realizar uma avaliação completa, incluindo exames neurológicos e laboratoriais, e indicar o tratamento mais adequado conforme a causa identificada.
Referências bibliográficas:
Lorenz, M. D., Kornegay, J. N., & Dewey, C. W. (2011). Veterinary Neurology. Saunders.
Platt, S. R., & Olby, N. J. (2013). BSAVA Manual of Canine and Feline Neurology. British Small Animal Veterinary Association.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.