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Cálculo da cunha da CTWO em cães: como planejar a osteotomia

Atualizado: 12 de set.

A Closing Tibial Wedge Osteotomy (CTWO) é uma técnica cirúrgica indicada no tratamento da ruptura do ligamento cruzado cranial (LCC) em cães, especialmente naqueles com ângulos do platô tibial (TPA) elevados ou em filhotes. Sua aplicação tem como objetivo alterar a biomecânica do joelho, corrigindo a inclinação da tíbia de forma que a força de cisalhamento cranial seja neutralizada mesmo sem a presença do ligamento.


Labrador em ambiente externo, representando paciente canino com ruptura do ligamento cruzado, possível candidato à cirurgia CTWO.

Para que a CTWO seja eficaz, o planejamento cirúrgico precisa ser meticuloso, e um dos pontos mais críticos desse planejamento é o cálculo da cunha da CTWO em cães. Uma cunha óssea triangular que será removida da tíbia proximal. Esse cálculo envolve dois fatores principais: o ângulo da cunha, que determina a magnitude da correção angular, e a altura da cunha, que indica a profundidade da osteotomia necessária na superfície cranial da tíbia.



O sucesso da cirurgia depende da exatidão desse planejamento. Quando bem executada, a CTWO restaura a biomecânica do joelho, corrige a instabilidade articular, reduz a progressão da osteoartrose e favorece uma recuperação funcional estável. Por outro lado, erros nesse cálculo podem gerar instabilidade residual, desalinhamentos, encurtamento de membro e até necessidade de reintervenção.


O cálculo começa com a mensuração do TPA atual, que deve ser obtido a partir de uma radiografia mediolateral precisa da tíbia, com posicionamento adequado e ausência de rotação. Com base na imagem, traça-se a linha do platô tibial (conectando os pontos mais craniais e caudais da superfície articular), o eixo mecânico da tíbia (do centro do tarso até a eminência intercondilar), e uma linha perpendicular a esse eixo. O ângulo formado entre essa perpendicular e a linha do platô é o TPA.


Em seguida, define-se o TPA desejado após a cirurgia, que geralmente varia entre 5° e 7°, a depender do porte do animal e da preferência do cirurgião. A diferença entre o TPA atual e o TPA-alvo fornece o ângulo da cunha a ser removida. Por exemplo, se um cão apresenta um TPA de 32° e o objetivo é chegar a 7°, a cunha deve ter 25° de angulação.


Com o ângulo definido, calcula-se a altura da cunha com base na largura da tíbia no ponto da osteotomia, na região mais distal da crista da tíbia. A fórmula empregada é: h= b × tan⁡ (θ)


Sendo h a altura da cunha, b a largura da tíbia em milímetros, e θ o ângulo da cunha. Suponha que a largura óssea seja de 30 mm e o ângulo da cunha seja 25°. Nesse caso, a altura da cunha será: h=30×tan⁡(25) ≈ 30×0,466 = 13,98 mm


Ou seja, será necessário retirar cerca de 14 mm de osso na cortical cranial para realizar a correção desejada.


Com essas informações em mãos, o cirurgião pode desenhar a cunha na tíbia proximal, respeitando o ângulo e a profundidade definidos. O vértice da cunha deve estar voltado caudalmente, e o fechamento da osteotomia precisa ser preciso e estável, geralmente fixado com placas e parafusos. O posicionamento da placa, a compressão adequada e a integridade das estruturas vizinhas devem ser cuidadosamente verificados.


Alguns cuidados adicionais tornam o planejamento mais seguro: medir a largura da tíbia, repetir a mensuração do TPA em mais de uma imagem para maior precisão, e utilizar gabaritos cirúrgicos ou softwares específicos para planejar a osteotomia de forma mais previsível. É possível também a confecção de guias em impressão 3D para auxiliar na osteotomia.


Embora a CTWO resulte em um leve encurtamento do membro (geralmente inferior a 5 mm), esse fator raramente tem impacto clínico, especialmente em cães de pequeno porte. Ainda assim, é fundamental respeitar a anatomia do paciente e garantir que a profundidade da osteotomia não comprometa a resistência óssea ou a estabilidade do implante.


O uso adequado da geometria aplicada à ortopedia é o que diferencia uma cirurgia bem-sucedida de uma com complicações biomecânicas.


O domínio desse cálculo não só aumenta a previsibilidade dos resultados, como também permite personalizar a técnica à anatomia de cada cão, respeitando os princípios da correção funcional e da preservação do eixo mecânico.


Referências bibliográficas:


Dejardin, L. M. (2010). Techniques in Veterinary Surgery: Tibial Osteotomies for the Cranial Cruciate Ligament Deficient Stifle. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, 40(5), 1095–1110.


Hulse, D., & Hyman, W. (2006). Biomechanics and the Cruciate Ligament Deficient Stifle. In: Bojrab, M. J. (Ed.), Current Techniques in Small Animal Surgery (5th ed.). Teton NewMedia.


Sobre o autor


Dr. Felipe Garofallo, veterinário ortopedista, especializado no diagnóstico e tratamento de problemas articulares e musculoesqueléticos em cães

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.


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