Bandagem de Velpeau em cães
- Felipe Garofallo

- 19 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 12 de set.
A bandagem de Velpeau é uma técnica amplamente utilizada na medicina veterinária para imobilização do membro torácico em cães.

Trata-se de uma forma de enfaixar o membro que mantém a pata dianteira completamente fletida e colada ao corpo do animal, impedindo que o membro seja movimentado durante o processo de recuperação.
Essa técnica leva o nome de Alfred Velpeau, um cirurgião francês do século XIX que a descreveu originalmente na medicina humana, sendo posteriormente adaptada para uso veterinário com grande eficácia.
Em cães, a bandagem de Velpeau é especialmente indicada em situações que exigem o bloqueio do movimento das articulações do ombro e do cotovelo.
Entre as principais indicações clínicas estão os casos de luxação escapuloumeral, especialmente após sua redução, fraturas proximais do úmero, lesões musculares ou tendíneas do membro anterior e no pós-operatório de procedimentos que envolvam essas regiões.
O objetivo é proporcionar descanso e estabilização da articulação afetada, facilitando a cicatrização dos tecidos lesionados e prevenindo novas lesões causadas por movimentações involuntárias do animal.
A aplicação correta da bandagem exige conhecimento anatômico e habilidade técnica. O membro é posicionado em flexão completa e mantido junto ao tórax do cão.
A bandagem é, então, firmemente aplicada de forma envolvente, passando ao redor do tórax, do membro afetado e do pescoço, criando uma estrutura de contenção segura.
Apesar da aparência que pode assustar alguns tutores, é importante destacar que a bandagem de Velpeau, quando corretamente aplicada, não causa dor ao animal e tem papel fundamental na recuperação ortopédica.
É essencial que o uso da bandagem seja acompanhado de perto por um médico-veterinário, já que o uso prolongado ou incorreto pode levar a complicações, como lesões por pressão, comprometimento da circulação sanguínea, dermatites ou até necrose de tecidos.
A frequência da troca da bandagem pode variar de acordo com o caso clínico, mas em geral, recomenda-se a reavaliação a cada dois a cinco dias. O tutor deve ser orientado a observar o animal diariamente, verificando sinais de desconforto, inchaço nos dedos, mau cheiro ou alterações na pele.
Outro ponto importante é que a bandagem de Velpeau não deve ser utilizada em qualquer tipo de fratura ou lesão.
Em casos de fraturas distais, como de rádio e ulna, essa técnica pode agravar o quadro clínico. Além disso, cães muito ativos ou agitados podem conseguir se livrar da imobilização, sendo necessário o uso de colares elisabetanos ou restrições adicionais durante o repouso.
A remoção da bandagem de Velpeau deve ser feita gradualmente e sob supervisão, considerando a evolução do quadro clínico e a tolerância do animal à movimentação progressiva do membro.
Em muitos casos, a reabilitação fisioterápica é indicada após o uso da bandagem para restaurar a mobilidade, a força muscular e a função do membro torácico.
A técnica de Velpeau continua sendo uma ferramenta valiosa na ortopedia veterinária, contribuindo de forma significativa para a recuperação de cães com lesões articulares, musculares ou ósseas no membro anterior. Quando bem indicada e corretamente monitorada, é uma aliada importante na prática clínica.
Referências:
Brinker, W.O., Piermattei, D.L., Flo, G.L. Handbook of Small Animal Orthopedics and Fracture Repair. 4ª edição. Saunders, 2006.
Fossum, T.W. Cirurgia de Pequenos Animais. 5ª edição. Elsevier, 2019.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.