Avanços em ortopedia: o que a medicina humana já aplica e pode migrar para cães
- Felipe Garofallo
- 16 de set.
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A ortopedia comparada vem crescendo muito nos últimos anos, e a troca de conhecimento entre medicina humana e veterinária é cada vez mais intensa.
Muitos avanços desenvolvidos para pessoas acabam migrando para cães, seja de forma direta (mesmos implantes e técnicas adaptadas), seja como inspiração para novas soluções adaptadas à biomecânica animal. Um dos campos mais evidentes é o das próteses articulares.
A artroplastia total de quadril, já consolidada em humanos há décadas, hoje é realidade em cães, com sistemas cimentados e não cimentados, além de versões customizadas por impressão 3D.
A tendência é a ampliação para outras articulações, como joelho e cotovelo, que ainda apresentam resultados limitados na veterinária, mas com perspectivas de evolução conforme materiais e técnicas humanas forem adaptadas.
As técnicas de osteotomia corretiva, como a TPLO (tibial plateau leveling osteotomy) e a TTA (tibial tuberosity advancement), tiveram inspiração direta em conceitos humanos de biomecânica do joelho. Atualmente, cirurgias como osteotomias de correção angular guiadas por navegação ou impressão 3D, já bem difundidas em ortopedia humana, começam a ser exploradas em cães com deformidades congênitas ou pós-traumáticas.
No campo da engenharia de tecidos e biomateriais, a medicina humana lidera o desenvolvimento de enxertos ósseos sintéticos, substitutos bioativos e ligas metálicas avançadas.
Esses recursos vêm migrando para a veterinária, principalmente em casos complexos de fraturas ou perdas ósseas. O uso de fatores de crescimento, células-tronco e plasma rico em plaquetas (PRP) também deriva da experiência humana, embora na veterinária a padronização e o nível de evidência ainda sejam mais limitados.
Outro avanço promissor é a navegação cirúrgica e a robótica. Em humanos, sistemas de realidade aumentada e robôs auxiliam na precisão de cortes ósseos e posicionamento de implantes.
Em cães, já existem estudos experimentais e relatos de casos de próteses e osteotomias guiadas por softwares 3D, com guias de corte impressos sob medida. Essa tecnologia deve se tornar mais acessível nos próximos anos e transformar a ortopedia veterinária de ponta.
Na área de reabilitação, terapias como fisioterapia precoce, hidroterapia, eletroestimulação, ondas de choque e laser de alta potência foram inicialmente validadas em medicina humana e hoje fazem parte do protocolo de recuperação em cães após cirurgias ortopédicas complexas. A tendência é incorporar também técnicas mais avançadas de reabilitação neuromuscular usadas em humanos.
Por fim, no campo da oncologia ortopédica, procedimentos de ressecção segmentar com substituição por endopróteses customizadas, comuns em humanos, já são relatados em cães, especialmente em casos de osteossarcoma, ampliando opções além da amputação tradicional.
Em resumo, a ortopedia veterinária tem se beneficiado enormemente da experiência humana, e os principais avanços que vêm migrando são: próteses articulares sofisticadas, osteotomias guiadas por tecnologia digital, biomateriais avançados, terapias regenerativas e sistemas de reabilitação.
O grande desafio é adaptar essas inovações à realidade anatômica e econômica da prática veterinária, sem perder de vista a viabilidade para tutores e pacientes.
Referências
Fitzpatrick N, Yeadon R. Advanced orthopedic procedures in companion animals: opportunities for translation. Vet J. 2009;182(1):3-8.
Marcellin-Little DJ, Franklin SP, Harrysson OLA. Orthopedic applications of custom 3D-printed implants in companion animals. Vet Surg. 2015;44(5):659-668.
Sobre o autor
Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.