Associação entre dor articular e comportamento ansioso em cães
- Felipe Garofallo

- 18 de out.
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A associação entre dor articular e comportamento ansioso em cães é um fenômeno cada vez mais reconhecido na medicina veterinária, resultado da complexa interação entre os sistemas nervoso, endócrino e emocional.

A dor crônica, como a causada por osteoartrite, displasia coxofemoral ou rupturas ligamentares, não se limita ao corpo físico: ela altera profundamente o funcionamento cerebral, influenciando diretamente o comportamento e o estado emocional do animal.
Quando há inflamação articular persistente, o estímulo doloroso contínuo ativa de forma constante as vias nociceptivas e promove a liberação de mediadores excitatórios, como glutamato e substância P.
Essa estimulação prolongada leva à sensibilização central, um estado em que o sistema nervoso torna-se mais reativo e interpreta até estímulos neutros como dolorosos.
O resultado é um cão em permanente estado de alerta, com liberação crônica de cortisol e outras substâncias relacionadas ao estresse.
Essas alterações hormonais e neuroquímicas estão diretamente ligadas a sinais de ansiedade, como hipervigilância, inquietação, vocalizações excessivas, lambedura compulsiva, perda de apetite e mudanças no padrão de sono.
Alguns cães se tornam mais retraídos e intolerantes à manipulação, enquanto outros apresentam comportamento agressivo, resultado da tentativa de evitar estímulos que associam à dor.
A relação entre dor e comportamento é bidirecional. A ansiedade, por sua vez, intensifica a percepção da dor, pois aumenta a atividade nas regiões cerebrais responsáveis pela emoção e pela memória, como a amígdala e o córtex pré-frontal.
Esse ciclo de reforço mútuo, dor que gera ansiedade e ansiedade que amplifica a dor e pode dificultar o diagnóstico e o controle clínico, especialmente em pacientes idosos ou com doenças ortopédicas crônicas.
O tratamento deve ir além do controle da inflamação articular. A abordagem multimodal inclui analgésicos específicos, como anticorpos monoclonais anti-NGF, gabapentina ou pregabalina, fisioterapia, acupuntura e enriquecimento ambiental.
Em casos de comportamento ansioso persistente, a associação de ansiolíticos, como trazodona ou fluoxetina, pode ser benéfica. O objetivo é reequilibrar o sistema neuroendócrino e quebrar o ciclo de dor e ansiedade, promovendo bem-estar físico e emocional.
Em resumo, a dor articular e a ansiedade estão profundamente interligadas e devem ser avaliadas como partes de um mesmo quadro clínico.
Reconhecer esse vínculo permite ao veterinário tratar o paciente de forma mais completa, restaurando tanto o conforto físico quanto a estabilidade emocional.
Referências bibliográficas:
1. Lascelles, B. D. X., & Capner, C. A. (2018). Chronic pain and its association with behavior and stress in dogs and cats. Journal of Veterinary Behavior, 25, 17–26.
2. Mathews, K. A., Kronen, P. W., & Lascelles, D. (2014). Guidelines for the recognition, assessment and treatment of pain. Journal of Small Animal Practice, 55(6), E10–E68.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.