Artroplastia total de quadril em cães
- Felipe Garofallo
- 5 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 12 de set.
A artroplastia total de quadril (ATQ) em cães representa um dos avanços cirúrgicos mais impactantes da ortopedia veterinária moderna, oferecendo alívio duradouro da dor, restauração da função articular e melhoria notável da qualidade de vida para pacientes com doenças coxofemorais avançadas.
Em geral, ela é indicada quando há artrose secundária grave, displasia coxofemoral em estágios finais, fraturas irreparáveis da cabeça ou colo femoral, necrose avascular ou falhas em procedimentos conservadores.
Diferentemente da colocefalectomia, que depende da formação de uma pseudartrose fibrosa e raramente devolve amplitude de movimento plena a cães de grande porte ou atletas, a artroplastia total de quadril restabelece uma articulação biomecanicamente próxima da fisiologia normal, permitindo retorno a atividades como corrida, saltos e natação sem dor significativa.
O planejamento pré-operatório começa com radiografias ortogonais de pelve, projetadas com rotação mínima, para mensurar a anteversão femoral, avaliar profundidade acetabular e escolher o tamanho correto dos componentes protéticos.
Nos últimos anos, a tomografia computadorizada tornou-se valiosa para gerar modelos 3D que orientam a seleção de copos acetabulares cimentados ou press-fit e hastes femorais modulares, reduzindo o risco de luxação pós-operatória.
Durante a cirurgia, a via craniolateral permite excelente acesso ao acetábulo. Após luxação e ressecção da cabeça femoral, o acetábulo é fresado gradualmente para acomodar o componente acetabular, evitando perda excessiva de cobertura ventral que predispõe à subluxação.
A cimentação do copo ou a impactação do componente poroso exige hemostasia rigorosa e irrigação pulsátil para minimizar partículas ósseas que poderiam comprometer a aderência.
No fêmur, o canal medular é fresado em diâmetro adequado para fornecer preenchimento cortical de 70 % a 80 % ao cimento ou à haste porosa, alinhando o colar protético à anteversão fisiológica (tipicamente 5°–10°). Após reduzir a articulação, realiza-se teste de estabilidade em abdução e rotação interna; qualquer instabilidade imediata deve ser corrigida no ato, seja ajustando o offset femoral ou realizando capsulorrafia reforçada.
O pós-operatório exige analgesia multimodal (opioide, AINE seletivo, bloqueio epidural ou perineural) e repouso controlado por duas a três semanas. A fisioterapia precoce — incluindo movimentos passivos e fortalecimento de glúteos e quadríceps — acelera a integração tecidual e reduz atrofia muscular. Radiografias de controle são recomendadas em 30, 60 e 180 dias para monitorar osteointegração ou linhas de radiolucência indicativas de afrouxamento.
As complicações estão em torno de 5 %–15 % e incluem luxação (mais comum nas duas primeiras semanas), infecção, fratura periprotética e micromovimento do componente acetabular. A profilaxia antibiótica estende-se até 24 h após a cirurgia, e a educação do tutor sobre restrição de atividade é crucial para evitar traumas rotacionais precoces.
Quando bem indicada e executada, a artroplastia total de quadril devolve aos cães uma vida praticamente sem dor, com relatos de tutores observando aumento do vigor, disposição para brincar e melhora no desempenho atlético.
Estudos de longo prazo apontam taxas de sobrevivência do implante superiores a 90 % em dez anos, comparáveis aos resultados da medicina humana. Assim, para cães que sofrem com dor refratária ou severa limitação funcional, a artroplastia total de quadril oferece não apenas uma alternativa, mas frequentemente a melhor solução definitiva.
Referências
Fossum, T. W. Small Animal Surgery, 6ª ed., Elsevier, 2023.Roe, S. C.; Markel, M. D. “Total Hip Replacement in the Dog.” Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, vol. 53, no. 4, 2023, pp. 897-918.
Pronto para dar o próximo passo? Agende agora mesmo uma consulta especializada em ortopedia veterinária e descubra se a artroplastia total de quadril é a melhor opção para o seu cão.
Sobre o autor
Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.