Artrodese de ombro em cães
- Felipe Garofallo

- 12 de ago.
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Atualizado: 12 de set.
A artrodese de ombro em cães é um procedimento cirúrgico de salvamento indicado quando a articulação escapuloumeral apresenta comprometimento irreversível, resultando em dor crônica e perda funcional que não podem ser resolvidas por métodos conservadores ou por cirurgias de preservação articular.

Essa técnica consiste na fusão cirúrgica da articulação, promovendo a imobilização permanente entre a escápula e o úmero, de forma a eliminar o movimento e, consequentemente, a dor proveniente de estruturas articulares danificadas.
As principais indicações incluem fraturas articulares graves e cominutivas que não possam ser reconstruídas de forma estável, luxações crônicas não redutíveis, artrite séptica com destruição da superfície articular, osteoartrite avançada refratária ao tratamento, e sequelas de lesões neuromusculares, como ruptura irreparável dos músculos e tendões do manguito rotador.
No cão, o chamado manguito rotador é formado principalmente pelos músculos supraespinhal, infraespinhal, subescapular e redondo menor, que trabalham juntos para estabilizar a articulação e manter a cabeça do úmero corretamente posicionada na cavidade glenoidal durante o movimento.
Quando há ruptura irreversível desses componentes, a instabilidade e a dor articular tornam-se crônicas, tornando a artrodese uma opção terapêutica definitiva.
O objetivo da cirurgia é colocar a articulação em um ângulo funcional que permita ao cão apoiar o membro com conforto, mesmo sem movimento articular. O ângulo de artrodese mais aceito para o ombro gira em torno de 105 a 115 graus de extensão, proporcionando equilíbrio entre conforto e funcionalidade durante a locomoção.
O procedimento requer remoção completa da cartilagem articular do úmero e da glenoide da escápula, seguida do posicionamento dos ossos na angulação desejada e estabilização rígida, geralmente com placa de compressão e parafusos. Enxertos ósseos autólogos ou alógenos são utilizados para estimular a fusão óssea entre as superfícies.
O pós-operatório demanda imobilização controlada, restrição de atividade por várias semanas e reabilitação fisioterápica adaptada para fortalecimento muscular e prevenção de compensações excessivas nos outros membros.
Embora a mobilidade do ombro seja perdida, cães submetidos à artrodese tendem a apresentar bom prognóstico funcional para atividades cotidianas, desde que o procedimento seja bem executado e a reabilitação conduzida de forma adequada.
As complicações possíveis incluem falha na consolidação (não união), quebra do implante, infecção e posicionamento inadequado do ângulo de fusão, o que pode comprometer a mecânica do membro e causar sobrecarga em outras articulações.
A seleção criteriosa dos casos, o planejamento cirúrgico detalhado e a execução técnica precisa são determinantes para o sucesso.
Apesar de ser um procedimento radical, a artrodese de ombro oferece aos cães uma solução definitiva para dor intensa e perda funcional grave, permitindo que retomem uma qualidade de vida aceitável, mesmo com as limitações de movimento impostas pela fusão articular.
Referências
Piermattei DL, Flo GL, DeCamp CE. Brinker, Piermattei, and Flo’s Handbook of Small Animal Orthopedics and Fracture Repair. 5th ed. Elsevier; 2016.
Johnson AL, Houlton JEF, Vannini R. AO Principles of Fracture Management in the Dog and Cat. 2nd ed. Thieme; 2018.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.