Antiinflamatórios não esteroidais ou corticóides para dor articular?
- Felipe Garofallo
- 12 de jul. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 17 de fev.
A escolha entre antiinflamatórios não esteroidais (AINEs) e corticosteróides para o manejo da dor articular é uma questão frequentemente discutida na medicina veterinária, e a decisão depende de vários fatores, incluindo a condição clínica específica do animal, a duração do tratamento, e os possíveis efeitos colaterais de cada classe de medicamentos.

Os AINEs, como carprofeno, meloxicam, e firocoxib, são amplamente utilizados no manejo da dor e inflamação associadas a doenças articulares em animais. Eles atuam inibindo a enzima ciclooxigenase (COX), que é responsável pela conversão do ácido araquidônico em prostaglandinas, substâncias que promovem inflamação, dor e febre. Existem duas isoformas principais da enzima COX: COX-1, que está envolvida na proteção da mucosa gastrointestinal e na função renal, e COX-2, que é induzida em resposta a processos inflamatórios. A maioria dos AINEs utilizados na veterinária são seletivos para COX-2, o que teoricamente reduz o risco de efeitos colaterais gastrointestinais e renais, mas não elimina completamente esses riscos.
Os corticosteróides, como prednisona, dexametasona, e metilprednisolona, também têm potentes efeitos anti-inflamatórios e imunossupressores. Eles agem em um nível mais alto na cascata inflamatória do que os AINEs, inibindo a fosfolipase A2 e, consequentemente, a produção de ácido araquidônico, o precursor das prostaglandinas e leucotrienos. Além disso, os corticosteróides suprimem a ativação de células inflamatórias e a liberação de citocinas pró-inflamatórias.
A principal vantagem dos AINEs em relação aos corticosteróides é a sua segurança a longo prazo. Os AINEs são geralmente considerados seguros para uso crônico, desde que o paciente seja monitorado adequadamente para sinais de toxicidade gastrointestinal, hepática e renal. Em contraste, os corticosteróides são geralmente reservados para uso a curto prazo ou em situações onde outros tratamentos falharam, devido aos seus efeitos colaterais significativos com o uso prolongado, incluindo supressão adrenal, imunossupressão, e efeitos metabólicos como hiperglicemia e redistribuição de gordura.
A eficácia dos AINEs e corticosteróides no manejo da dor articular varia dependendo da condição subjacente. Para condições como osteoartrite, os AINEs são frequentemente preferidos devido ao seu perfil de segurança e eficácia na redução da dor e inflamação. Em situações agudas ou exacerbadas de doenças autoimunes articulares, como artrite reumatoide ou lupus eritematoso sistêmico, os corticosteróides podem ser mais eficazes devido à sua ação potente e abrangente no controle da inflamação.
A escolha do medicamento também deve considerar a resposta individual do paciente e a presença de comorbidades. Por exemplo, em animais com histórico de doenças gastrointestinais ou renais, os AINEs devem ser usados com cautela, e pode-se considerar a utilização de inibidores de bomba de prótons ou antagonistas dos receptores H2 para proteger a mucosa gástrica. Nos casos onde os corticosteróides são necessários, a estratégia de desmame gradual é crucial para evitar insuficiência adrenal secundária.
Portanto, a decisão entre AINEs e corticosteróides deve ser individualizada, considerando-se a condição clínica específica, o histórico médico do paciente, e a resposta ao tratamento. É fundamental o monitoramento contínuo para ajustar a terapia conforme necessário e minimizar os riscos de efeitos adversos. O manejo multidisciplinar, incluindo fisioterapia e mudanças no estilo de vida, pode complementar o tratamento medicamentoso, proporcionando uma abordagem mais abrangente e eficaz para o manejo da dor articular em animais.
Referências bibliográficas
1. Lees, P., Landoni, M. F., Giraudel, J., & Toutain, P. L. (2004). Pharmacodynamics and pharmacokinetics of nonsteroidal anti-inflammatory drugs in species of veterinary interest. Journal of Veterinary Pharmacology and Therapeutics, 27(6), 479-490.
2. MacFarlane, P. D., & Maddison, J. E. (2006). Nonsteroidal anti-inflammatory drugs in cats and dogs. Australian Veterinary Journal, 84(7), 222-223.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico veterinário (CRMV/SP 39.972), especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades. Agende uma consulta pelo whatsapp (11)97522-5102.
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