Anisocoria em cães: o que significa quando as pupilas estão diferentes
- Felipe Garofallo

- 21 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 12 de set.
A anisocoria em cães é uma condição oftálmica caracterizada pela diferença no tamanho das pupilas, sendo uma pupila visivelmente maior ou menor que a outra. Essa alteração pode ser percebida de forma súbita ou gradual e, muitas vezes, assusta os tutores ao notarem essa assimetria nos olhos do animal.

A pupila é a abertura central da íris responsável por controlar a entrada de luz nos olhos. Sua contração ou dilatação ocorre em resposta à luminosidade, sendo controlada por um equilíbrio preciso entre o sistema nervoso simpático e parassimpático. Quando esse equilíbrio é interrompido por alguma causa patológica, ocorre a anisocoria.
Em cães, a anisocoria pode ter origem em diversas condições, desde problemas oftálmicos locais até distúrbios neurológicos mais complexos. Entre as causas oftálmicas, destaca-se a uveíte anterior, que é a inflamação da úvea (estrutura interna do olho) e pode provocar dor, vermelhidão e alteração no diâmetro pupilar.
O glaucoma também é uma causa importante e emergencial: trata-se de um aumento da pressão intraocular que pode levar à perda irreversível da visão se não for tratado rapidamente. Nesses casos, a pupila do olho afetado pode estar dilatada e não reagir adequadamente à luz, sendo um sinal de alerta para o clínico.
Outra causa de anisocoria está relacionada a lesões ou alterações neurológicas. A síndrome de Horner, por exemplo, é um distúrbio neurológico que afeta a inervação simpática do olho, provocando miose (contração da pupila), ptose (queda da pálpebra), enoftalmia (afundamento do olho) e protrusão da terceira pálpebra.
Esse quadro pode ser resultado de traumas cervicais, otites médias ou lesões em plexos nervosos cervicais. Já a anisocoria resultante de lesões cerebrais ou tumorais geralmente envolve comprometimento dos centros que controlam a resposta pupilar, e muitas vezes está associada a outros sinais neurológicos, como alterações de comportamento, dificuldade de locomoção ou convulsões.
É fundamental realizar uma avaliação minuciosa para determinar a causa da anisocoria. O exame clínico inclui inspeção oftálmica com lâmpada de fenda, tonometria para aferição da pressão intraocular, teste de resposta pupilar à luz, além de avaliação neurológica completa.
Em alguns casos, exames complementares como ressonância magnética, tomografia ou testes laboratoriais podem ser necessários para elucidar o diagnóstico. A identificação precoce da causa é crucial, já que algumas condições exigem intervenção imediata para evitar sequelas, como a perda visual.
O tratamento da anisocoria depende diretamente da causa subjacente. Em casos inflamatórios, como a uveíte, são indicados colírios anti-inflamatórios e analgésicos, além de tratamento sistêmico quando necessário.
O glaucoma, por sua vez, demanda controle rigoroso da pressão intraocular, podendo exigir medicações tópicas e, em situações mais graves, intervenção cirúrgica. Quando a origem é neurológica, o tratamento será direcionado à doença de base, podendo envolver antibióticos, anti-inflamatórios, cirurgia ou suporte intensivo, dependendo do caso.
Independentemente da causa, a anisocoria nunca deve ser ignorada. Mesmo quando não acompanhada de dor ou outros sinais, ela pode ser o primeiro indício de uma condição mais grave. Por isso, o tutor deve sempre procurar avaliação veterinária ao perceber qualquer assimetria nas pupilas do cão.
O acompanhamento por um médico veterinário especializado, seja em oftalmologia ou neurologia, é essencial para garantir o diagnóstico correto e instituir o tratamento adequado, prevenindo danos à saúde ocular e neurológica do animal.
Referências bibliográficas:
Gelatt, K. N. (2011). Veterinary Ophthalmology. 5th ed. Wiley-Blackwell.
Plummer, C. E., Regnier, A., & Gelatt, K. N. (2007). The canine Horner’s syndrome: a retrospective study of 113 cases. Veterinary Ophthalmology, 10(2), 67–73.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.