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Ângulo-Q em cães

O ângulo-Q é uma medida biomecânica que avalia o alinhamento do aparelho extensor do joelho em cães, sendo especialmente útil na investigação de luxações de patela, alterações estruturais do fêmur ou da tíbia, e incongruências articulares do joelho.


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Essa mensuração tem como objetivo quantificar o vetor de tração do músculo quadríceps em relação ao centro da patela e à tuberosidade da tíbia, permitindo identificar desvios que podem predispor a distúrbios mecânicos e funcionais no membro posterior.

Em cães, o cálculo do ângulo-Q segue princípios semelhantes aos aplicados na medicina humana, com adaptações anatômicas. Para obtê-lo, realiza-se uma radiografia craniocaudal do membro pélvico, com o animal sedado, em decúbito dorsal e com os membros pélvicos perfeitamente alinhados e estendidos, com o fêmur paralelo ao solo.

A primeira linha é traçada da origem do músculo reto femoral (na região cranial do ílio) até o centro da patela, representando a linha de ação do quadríceps. A segunda linha vai do centro da patela até a tuberosidade da tíbia. O ângulo formado entre essas duas linhas é o ângulo-Q.

Embora não haja um consenso absoluto sobre os valores normais em cães, estima-se que um ângulo superior a 10–15 graus possa indicar desalinhamento significativo, principalmente em pacientes com luxação medial ou lateral da patela. Nos cães de pequeno porte, predispostos à luxação medial, observa-se frequentemente um desvio medial do vetor de tração do quadríceps. Já em cães de grande porte com luxação lateral, é comum o vetor estar desviado lateralmente.

Quando o ângulo-Q está alterado e associado a claudicação, dor à manipulação e alterações radiográficas, pode haver indicação de correções cirúrgicas como a transposição da tuberosidade tibial, trocleoplastias ou osteotomias corretivas do fêmur ou da tíbia.

A análise do ângulo-Q também deve considerar deformidades como genu varum, genu valgum, recurvatum e procurvatum, que interferem na direção da força exercida pelo quadríceps, podendo mascarar ou agravar desalinhamentos patelares.

Por isso, essa mensuração não deve ser interpretada isoladamente, mas sim integrada ao exame clínico, observação do movimento e avaliação radiográfica em diferentes projeções.

Por fim, a correta mensuração do ângulo-Q exige posicionamento padronizado, boa técnica radiográfica e experiência clínica. Mesmo com limitações em ambientes de rotina, trata-se de uma ferramenta valiosa para o diagnóstico e o planejamento cirúrgico em ortopedia veterinária.

Referências bibliográficas:


L’Eplattenier, H. F., Montavon, P. M. (2002). Patellar luxation in dogs and cats: pathogenesis and diagnosis. Compendium on Continuing Education for the Practicing Veterinarian, 24(3), 234–243.


Kaiser, S., Cornely, D., Golder, W. (2001). Radiographic measurement of the Q-angle in dogs and its relationship to medial patellar luxation. Veterinary Radiology & Ultrasound, 42(5), 435–440.


Sobre o autor


Dr. Felipe Garofallo, veterinário ortopedista, especializado no diagnóstico e tratamento de problemas articulares e musculoesqueléticos em cães

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.


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