Amiloidose em cães
- Felipe Garofallo

- 22 de jul.
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Atualizado: 12 de set.
A amiloidose em cães é uma condição patológica caracterizada pelo acúmulo anormal de proteínas insolúveis chamadas amiloides nos tecidos e órgãos do corpo.

Esses depósitos extracelulares interferem na arquitetura e na função normal dos órgãos, podendo levar a quadros clínicos graves e progressivos.
Embora a amiloidose seja uma doença incomum na rotina clínica, seu reconhecimento precoce é essencial, pois os sinais clínicos são muitas vezes inespecíficos e o prognóstico tende a ser reservado.
A formação dos depósitos de amiloide ocorre quando proteínas normalmente solúveis sofrem alterações em sua estrutura tridimensional, tornando-se insolúveis e resistentes à degradação. Isso leva à sua deposição em diversos órgãos, como rins, fígado, baço, trato gastrointestinal e até mesmo coração, dependendo do tipo de amiloidose envolvida.
Nos cães, o tipo mais comum é a amiloidose AA, associada à inflamação crônica. Essa forma está frequentemente relacionada a doenças infecciosas, inflamatórias ou neoplásicas prolongadas que aumentam a produção de proteínas de fase aguda pelo fígado, como a amiloide A sérica.
Os sinais clínicos variam amplamente e dependem do órgão afetado. A forma renal da doença é a mais frequentemente observada em cães, especialmente em raças como Shar-Pei, Beagle, Fox Terrier e Collie. Quando os rins são afetados, pode haver proteinúria grave, levando à síndrome nefrótica ou à insuficiência renal crônica. A presença de ascite, edema periférico, perda de peso progressiva, letargia e poliúria/polidipsia são sinais comuns nesses casos.
Já nas formas hepáticas, pode haver hepatomegalia, alterações nas enzimas hepáticas e, em casos mais avançados, falência hepática. Em raras ocasiões, a ruptura espontânea do fígado pode ocorrer devido à fragilidade provocada pelos depósitos de amiloide, resultando em hemorragias internas fatais.
O diagnóstico de amiloidose exige um alto grau de suspeita clínica. A presença de proteinúria persistente com densidade urinária diminuída e ausência de infecção urinária já levanta a hipótese em pacientes predispostos.
A confirmação, no entanto, depende da biópsia do órgão afetado e coloração específica do tecido com vermelho Congo, que exibe birrefringência verde sob luz polarizada, um padrão clássico da presença de amiloide. Técnicas como imunohistoquímica podem ser usadas para determinar o tipo de proteína amiloide envolvida, o que pode ser útil na investigação da causa primária.
O tratamento da amiloidose é desafiador. Na maioria dos casos, não há cura definitiva, e a abordagem se baseia no controle da doença subjacente e no suporte clínico dos órgãos afetados.
No caso da amiloidose AA, é essencial reduzir a inflamação crônica que estimula a produção da proteína amiloide A. Medicamentos como dimetilsulfóxido (DMSO), colchicina e inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA) podem ser usados, embora os resultados variem.
Em cães com proteinúria grave, o uso de dietas renais, antiproteinúricos e controle rigoroso da pressão arterial são medidas importantes. Apesar disso, o prognóstico é geralmente reservado a desfavorável, especialmente nos casos em que há insuficiência renal avançada ou envolvimento hepático severo.
A amiloidose continua sendo uma doença de difícil manejo e diagnóstico, com necessidade de mais estudos em cães. A conscientização sobre seus sinais clínicos e a investigação precoce em pacientes de risco são fundamentais para tentar oferecer uma melhor qualidade de vida e prolongar a sobrevida dos animais afetados.
Referências bibliográficas:
ZACHARY, J.F.; MCGAVIN, M.D. Pathologic Basis of Veterinary Disease. 6th ed. Elsevier, 2016.COUTO, C.G. Hematologia Veterinária: Fundamentos e Aplicações. 2ª ed. Roca, 2007.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.