Ácido tolfenâmico em cães

O ácido tolfenâmico é um anti-inflamatório não esteroidal (AINE) que vem sendo utilizado com sucesso na medicina veterinária, especialmente na Europa, para o controle da dor e inflamação em cães.

Embora seja um medicamento aprovado e comercializado em diversos países, como França, Itália, Reino Unido e outros da União Europeia, o seu uso no Brasil ainda é bastante limitado. Isso se deve tanto à pouca disponibilidade comercial quanto à preferência consolidada de muitos clínicos por fármacos mais comuns, como carprofeno, meloxicam ou firocoxib.

O tolfenâmico pertence ao grupo dos ácido antranílicos, como o ácido mefenâmico na medicina humana.

Seu mecanismo de ação baseia-se na inibição das enzimas ciclooxigenase (COX), com maior seletividade para a COX-2 em doses terapêuticas, o que resulta na redução da síntese de prostaglandinas, substâncias que desencadeiam os sinais clássicos da inflamação: dor, calor, rubor, edema e perda de função.

Com isso, o tolfenâmico oferece efeito analgésico, anti-inflamatório e antipirético, sendo uma opção eficaz no tratamento de processos inflamatórios agudos de origem musculoesquelética, incluindo quadros ortopédicos, traumáticos e pós-operatórios.

Na prática clínica, o ácido tolfenâmico é indicado em casos de dor musculoesquelética aguda, como entorses, distensões, traumas, e também em situações pós-cirúrgicas, inclusive em ortopedia. Seu uso pode ser por via oral ou injetável, com apresentações variando conforme o país.

A dose mais frequentemente utilizada em cães é de 4 mg/kg a cada 24 horas, por um período curto, geralmente de 3 a 5 dias. Vale ressaltar que a escolha da dose, da via de administração e da duração do tratamento deve sempre ser feita por um médico-veterinário, levando em consideração o estado clínico geral do animal e a presença de comorbidades.

Uma das características que chama atenção no ácido tolfenâmico é sua boa tolerabilidade gástrica. Em estudos comparativos com outros AINEs, ele apresentou menor incidência de lesões gástricas, o que o torna uma alternativa promissora, principalmente em cães que demonstraram intolerância a outros anti-inflamatórios.

Ainda assim, os mesmos cuidados se aplicam: seu uso deve ser criterioso em pacientes com histórico de doença renal, hepática ou em estado desidratado, assim como em cães geriátricos.

No Brasil, o ácido tolfenâmico é raramente utilizado por dois motivos principais: primeiro, porque não é amplamente distribuído no mercado veterinário nacional; segundo, porque muitos profissionais não estão familiarizados com sua ação e benefícios, o que naturalmente reduz sua prescrição.

Em contraste, na Europa, ele está presente nas diretrizes clínicas de tratamento da dor em pequenos animais e é frequentemente utilizado como parte dos protocolos multimodais de analgesia.

Por ser pouco explorado por aqui, o tolfenâmico representa uma oportunidade para veterinários que buscam alternativas terapêuticas com boa eficácia e segurança, especialmente em casos de resposta insatisfatória a AINEs convencionais.

Além disso, pode ser uma opção interessante em regimes rotativos de controle da dor em pacientes ortopédicos crônicos, embora seu uso principal ainda seja em quadros agudos.

É fundamental, no entanto, que qualquer uso do ácido tolfenâmico seja feito com base em avaliação individualizada e monitoramento adequado, considerando seu perfil farmacológico e as particularidades do paciente.

Referências bibliográficas:

Papich, M.G. (2021). Saunders Handbook of Veterinary Drugs: Small and Large Animal. 5th ed. Elsevier.

Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.

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