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A anestesia e a cirurgia ortopédica em cães

Atualizado: 12 de set.

A anestesia em cirurgias ortopédicas de cães requer um planejamento minucioso e individualizado, considerando não apenas a condição clínica do paciente, mas também o tipo e a duração do procedimento.


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As cirurgias ortopédicas, por envolverem manipulação óssea, geram dor intensa e prolongada, demandando protocolos anestésicos e analgésicos que garantam conforto, estabilidade fisiológica e recuperação segura. O sucesso da intervenção depende tanto da habilidade do cirurgião quanto da qualidade do manejo anestésico.


Antes da anestesia, é fundamental realizar uma avaliação pré-operatória completa. Isso inclui anamnese detalhada, exame físico, exames laboratoriais (hemograma, perfil bioquímico, eletrólitos) e, quando necessário, avaliação cardiológica e radiografias torácicas.


Animais geriátricos, com doenças concomitantes ou de raças braquicefálicas, exigem cuidados adicionais. Uma correta classificação do estado físico segundo a escala ASA (American Society of Anesthesiologists) ajuda a prever riscos e ajustar o protocolo anestésico.


A anestesia balanceada é a abordagem mais recomendada em procedimentos ortopédicos. Consiste na combinação de diferentes fármacos que atuam em pontos distintos do sistema nervoso central e periférico, promovendo sedação, analgesia e relaxamento muscular com menor dose de cada droga isoladamente.


Normalmente, inicia-se com uma pré-medicação, utilizando opioides (como morfina, metadona ou fentanil), sedativos (como acepromazina ou dexmedetomidina) e, em alguns casos, anti-inflamatórios não esteroidais. Essa etapa visa reduzir o estresse do animal, facilitar a indução e melhorar o controle da dor intra e pós-operatória.


A indução anestésica costuma ser feita com agentes intravenosos como propofol, alfaxalona ou cetamina associada ao midazolam. Uma vez entubado, o animal é mantido sob anestesia inalatória (geralmente com isoflurano ou sevoflurano), com monitoramento contínuo de parâmetros vitais como frequência cardíaca, pressão arterial, capnografia, oxigenação e temperatura.


A hipotermia é uma complicação frequente em ortopedia, devido à exposição prolongada, à imobilização e ao uso de superfícies frias; por isso, a normotermia deve ser mantida com dispositivos de aquecimento.


A analgesia multimodal é essencial nesses procedimentos. Além dos opioides sistêmicos, pode-se empregar bloqueios locorregionais como o bloqueio do nervo ciático e femoral em cirurgias de membros posteriores, reduzindo a necessidade de anestésicos gerais e promovendo maior conforto no pós-operatório.


A infiltração local com anestésicos como lidocaína ou bupivacaína no local da incisão também contribui para o alívio da dor.


Durante a cirurgia ortopédica, o controle da hemorragia, a manutenção da estabilidade cardiovascular e a resposta adequada ao estímulo doloroso são aspectos críticos.


A presença de um anestesista experiente ou profissional treinado em anestesia veterinária é desejável para manejar eventuais intercorrências e ajustar o plano anestésico em tempo real.


No pós-operatório imediato, a monitorização continua sendo importante, especialmente em pacientes que receberam opioides potentes ou apresentaram instabilidade durante o procedimento.


A analgesia deve ser mantida com AINEs, opioides e, em alguns casos, gabapentinoides. O uso de técnicas como infusão contínua de analgesia (CRI) com fentanil, lidocaína e cetamina também pode ser indicado para procedimentos mais invasivos ou em pacientes com dor intensa.


Por fim, vale destacar que o manejo anestésico influencia diretamente na recuperação ortopédica do paciente. Um animal que acorda sem dor, tranquilo e com estabilidade hemodinâmica tende a retomar mais cedo a fisioterapia e a carga progressiva no membro operado, reduzindo o risco de complicações como atrofia muscular, contraturas ou frustração dos implantes.


Referências bibliográficas:


Campoy, L., & Read, M. R. (2013). Small Animal Regional Anesthesia and Analgesia. Wiley-Blackwell.


Grimm, K. A., Lamont, L. A., Tranquilli, W. J., Greene, S. A., & Robertson, S. A. (2015). Veterinary Anesthesia and Analgesia: The Fifth Edition of Lumb and Jones. Wiley-Blackwell.


Sobre o autor


Dr. Felipe Garofallo, veterinário ortopedista, especializado no diagnóstico e tratamento de problemas articulares e musculoesqueléticos em cães

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.


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