Quando suspeitar de displasia coxofemoral mesmo sem sinais radiográficos
- Felipe Garofallo
- há 3 dias
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A displasia coxofemoral é uma afecção ortopédica de base multifatorial, com forte influência genética, que compromete o desenvolvimento normal da articulação do quadril em cães.

Tradicionalmente, sua suspeita clínica é reforçada por sinais radiográficos típicos, como incongruência articular, subluxação da cabeça femoral, achatamento do acetábulo ou osteoartrose secundária. No entanto, é fundamental compreender que a ausência de alterações radiográficas evidentes não exclui a presença da doença. Pelo contrário, alguns pacientes, especialmente nas fases iniciais ou com formas compensadas da displasia, podem apresentar sinais clínicos compatíveis mesmo diante de exames de imagem aparentemente normais.
É nesse contexto que o papel da avaliação clínica detalhada se torna indispensável. Em minha rotina como ortopedista veterinário, já atendi diversos cães, especialmente jovens de raças predispostas — como Labrador, Golden Retriever, Pastor Alemão, Rottweiler e Bernese —, que apresentavam claudicação intermitente, intolerância a exercícios ou dificuldade para se levantar, sem qualquer evidência clara de displasia nos exames radiográficos convencionais. Nessas situações, a sensibilidade à manipulação da articulação coxofemoral, o especialmente os testes em abdução e rotação externa da articulação coxofemoral, se tornam essenciais.
Além disso, é importante destacar que a displasia coxofemoral não é apenas uma condição estrutural, mas também funcional. Um cão pode apresentar dor ou dificuldade de locomoção por instabilidade articular, mesmo que os componentes ósseos não evidenciem alterações marcantes.
Em muitos casos, o acometimento envolve tecidos moles, como cápsula articular e ligamento redondo, que não são visualizados em radiografias. Exames complementares como o PennHIP podem revelar graus mais sutis de instabilidade ou frouxidão ligamentar, confirmando a suspeita clínica.
A experiência clínica me mostrou que confiar apenas na imagem pode atrasar o diagnóstico e comprometer a qualidade de vida do animal. Em cães jovens, especialmente aqueles que já passaram por um pico de crescimento ou aumento súbito de massa muscular, as alterações estruturais podem ainda não estar totalmente formadas ou evidentes no raio-X.
A dor, nesses casos, pode decorrer de microinstabilidades que levam a sobrecarga articular, inflamação e dor referida, mesmo em articulações com congruência aceitável. O ortopedista experiente deve manter um olhar clínico sensível e considerar a displasia como diagnóstico diferencial mesmo na ausência de alterações radiográficas, quando o histórico e a semiologia indicam instabilidade coxofemoral.
O tratamento precoce é crucial nesses casos. Um plano terapêutico personalizado, que pode incluir controle de peso, fisioterapia, suplementação condroprotetora e, em alguns casos, intervenções cirúrgicas preventivas como a sinfisiodese púbica juvenil ou osteotomia pélvica dupla, pode modificar significativamente o curso da doença. O diagnóstico clínico preciso, mesmo sem confirmação radiográfica, é a base para garantir a esses cães uma vida mais confortável e funcional.
Referências bibliográficas
Smith, G. K., Mayhew, P. D., Kapatkin, A. S., McKelvie, P. J., Powers, M. Y., & Shofer, F. S. (2001). Evaluation of risk factors for degenerative joint disease associated with hip dysplasia in German Shepherd Dogs, Golden Retrievers, Labrador Retrievers, and Rottweilers. Journal of the American Veterinary Medical Association, 219(12), 1719–1724.
Lippincott, C. L., Smith, G. K., & Gregor, T. P. (2011). Radiographic, computed tomographic, and magnetic resonance imaging findings in dogs with early-stage hip dysplasia. Veterinary Radiology & Ultrasound, 52(5), 536–543.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico veterinário (CRMV/SP 39.972), especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades. Agende uma consulta pelo whatsapp (11)91258-5102.
Olá! Sou o Dr. Felipe Garofallo, médico-veterinário especializado em ortopedia. Se você desconfia que seu cão possa ter displasia coxofemoral, mesmo sem alterações no raio-X, não hesite em buscar uma avaliação especializada. O diagnóstico precoce pode fazer toda a diferença na qualidade de vida dele. Aqui na clínica, realizamos uma avaliação completa e personalizada para identificar até os casos mais sutis da doença. Agende uma consulta conosco e tire suas dúvidas!