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Foto do escritorFelipe Garofallo

Técnica do colar de pérolas para cães com osteomielite

A técnica do colar de pérolas é uma abordagem eficaz no tratamento de osteomielite em cães. A osteomielite é uma infecção óssea séria que pode ser causada por diversos patógenos, sendo o Staphylococcus aureus um dos mais comuns.



Esta condição requer um tratamento agressivo devido à dificuldade de penetração de antibióticos no tecido ósseo e à presença de biofilmes bacterianos que protegem os microrganismos da ação dos antimicrobianos.


A técnica do colar de pérolas consiste na inserção de esferas de cimento ósseo, também chamadas de contas, impregnadas com antibióticos diretamente no local da infecção. Esta técnica permite uma alta concentração local de antibióticos, superando as barreiras de penetração e aumentando a eficácia do tratamento. As pérolas são geralmente feitas de polimetilmetacrilato (PMMA) e podem ser carregadas com diferentes tipos de antibióticos, dependendo do perfil de sensibilidade do agente infeccioso.


Na técnica do colar de pérolas para o tratamento de osteomielite em cães, a escolha dos antibióticos é crucial para garantir a eficácia do tratamento. Os antibióticos selecionados devem possuir uma boa atividade contra os patógenos causadores da infecção e devem ser estáveis quando misturados com o cimento ósseo. Entre os antibióticos mais comumente utilizados, destaca-se a gentamicina, frequentemente usada devido à sua ampla cobertura contra bactérias gram-negativas e algumas gram-positivas. A gentamicina é estável quando misturada com o polimetilmetacrilato (PMMA), o que permite uma liberação prolongada e eficaz do antibiótico.


Outro antibiótico comumente utilizado é a vancomicina, altamente eficaz contra bactérias gram-positivas, incluindo o Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA). A vancomicina é uma escolha comum para infecções graves e resistentes a múltiplos medicamentos. Além disso, a cefazolina, um antibiótico de primeira geração da classe das cefalosporinas, é eficaz contra uma ampla gama de bactérias gram-positivas e algumas gram-negativas, sendo frequentemente usada devido à sua boa estabilidade e eficácia.


A clindamicina também é uma opção valiosa, especialmente eficaz contra anaeróbios e alguns gram-positivos. Este antibiótico é conhecido por sua boa penetração tecidual, tornando-se útil em infecções mistas. Semelhante à gentamicina, a tobramicina é eficaz contra bactérias gram-negativas e é estável em PMMA, sendo utilizada em infecções particularmente resistentes ou complicadas. A amicacina, outro aminoglicosídeo, é usada em casos de resistência à gentamicina e à tobramicina, oferecendo uma boa cobertura contra gram-negativos e alguns gram-positivos.


A escolha do antibiótico baseia-se no perfil de sensibilidade do patógeno isolado a partir de culturas microbiológicas, bem como na estabilidade do antibiótico quando misturado com PMMA e na necessidade de liberação prolongada no local da infecção.


Para garantir a eficácia do tratamento, é fundamental realizar um diagnóstico microbiológico adequado e selecionar o antibiótico com base nos resultados de testes de sensibilidade. Esta abordagem personalizada, ajustando a escolha do antibiótico às necessidades específicas do paciente e à natureza da infecção, é crucial para o sucesso da técnica do colar de pérolas.


Para realizar a técnica do colar de pérolas, primeiramente, é necessário um diagnóstico preciso da osteomielite, geralmente feito através de radiografias além de exames microbiológicos para identificar o patógeno causador e seu perfil de sensibilidade. Após o diagnóstico, o procedimento cirúrgico é planejado.


Durante a cirurgia, a área afetada é exposta e desbridada para remover o tecido necrosado e o biofilme bacteriano. Em seguida, as contas de antibióticos são preparadas. A mistura de PMMA e o antibiótico escolhido é moldada em pequenas esferas, que são então colocadas em um fio de náilon ou outro material biocompatível, formando um colar. Este colar é inserido diretamente no local da infecção.


As vantagens dessa técnica são inúmeras. Primeiramente, a concentração de antibióticos no local da infecção é significativamente maior do que aquela que poderia ser alcançada através da administração sistêmica, aumentando a eficácia do tratamento e reduzindo a toxicidade sistêmica. Além disso, a liberação lenta e contínua do antibiótico das pérolas proporciona uma ação prolongada, o que é essencial no tratamento da osteomielite crônica.


Outra vantagem é a capacidade de personalizar o tratamento. Diferentes antibióticos podem ser utilizados, e a concentração de cada um pode ser ajustada de acordo com a necessidade específica do paciente e a sensibilidade do patógeno. Além disso, o uso das contas de antibióticos pode reduzir a necessidade de múltiplas cirurgias para desbridamento, uma vez que elas ajudam a manter o local da infecção estéril enquanto o osso se regenera.


No entanto, a técnica do colar de pérolas também apresenta desafios e limitações. A preparação das contas requer um ambiente estéril e uma técnica precisa para garantir que o antibiótico seja incorporado de maneira adequada ao PMMA. Além disso, o material das contas pode causar uma reação inflamatória local, embora isso seja raro. A remoção das contas também pode ser necessária após a resolução da infecção, dependendo do material utilizado.


Em conclusão, a técnica do colar de pérolas representa uma opção significativa no tratamento da osteomielite em cães, proporcionando uma alta concentração local de antibióticos e uma liberação prolongada, aumentando a eficácia do tratamento e reduzindo a toxicidade sistêmica. Com um diagnóstico preciso e uma execução cuidadosa, esta técnica pode melhorar significativamente os resultados para cães com osteomielite, proporcionando uma solução eficaz e personalizada para essa condição desafiadora.


Referências bibliográficas


1. Dunlop, D. G., & Brewster, N. T. (2002). The use of antibiotic-loaded bone cement in musculoskeletal infection. Journal of Bone and Joint Surgery, 84(1), 7-9.


2. Wenke, J. C., & Owens, B. D. (2007). Antibiotic beads for the treatment of musculoskeletal infections. Current Orthopaedic Practice, 18(4), 513-519.


Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972), especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades. Agende uma consulta presencial pelo whatsapp (11)91258-5102 ou uma consultoria on-line por vídeo.

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