Espondilomielopatia cervical ou EMC.
Definição
A espondilomielopatia cervical, comumente conhecida como síndrome de Wobbler, é uma doença da coluna vertebral no pescoço, resultando em uma transmissão deficiente de sinais nervosos entre o cérebro e o corpo, devido a compressão da medula espinal.
Podem haver vários problemas morfológicos dos ossos do pescoço em cães afetados. Mais frequentemente, essas anormalidades ósseas predispõem a problemas com os discos intervertebrais, que degeneram e se projetam contra a medula espinal.
A instabilidade da coluna vertebral na região do pescoço e alterações reativas das articulações podem resultar em ainda mais compressão da medula espinal.
Além disso, a compressão da medula espinal pode ser afetada por diferentes posicionamentos do pescoço. Como resultado, o movimento do pescoço em cães afetados pode resultar em traumas repetitivos na medula. Por último, esses cães também podem ser afetados pelos espasmos dos músculos do pescoço.
A EMC pode ser dividida em compressão disco-associada e compressão ósseo-associada.
A compressão ósseo-associada é predominante em cães jovens de raças grandes e gigantes como o Dogue Alemão ou o Pitbull, com causa hereditária mais provável.
Enquanto isso, a compressão disco-associada é vista em cães de raças grandes e de meia idade, em média com 6 anos de idade.
Etiologia (causa)
A síndrome de Wobbler tem uma causa primariamente genética; no entanto, fatores dietéticos podem contribuir. Há evidências na literatura que sugerem que os Doberman Pinschers afetados têm um tamanho reduzido do canal espinhal do pescoço em comparação com cães normais da mesma raça, o que pode aumentar o risco de desenvolvimento da doença.
Como suspeitar
Os cães afetados tendem a ser de raças grandes ou gigantes e podem apresentar sinais da síndrome de wobbler ao longo da vida.
Raças gigantes, como Dogue Alemão, costumam ser afetadas quando são adultos jovens. Os Doberman Pinschers costumam estar na meia-idade quando desenvolvem os primeiros sinais clínicos.
Os sinais clínicos variam de acordo com a gravidade e a duração da compressão da medula espinal. O sinal clínico mais comum da Síndrome de Wobbler é uma marcha descoordenada, com tendência a tropeçar e arrastar os pés. Alguns cães têm dores no pescoço, embora muitos não mostrem nenhum sinal de desconforto. Os sinais podem progredir para paralisia completa de todos os quatro membros.
Várias outras doenças produzem sinais clínicos semelhantes à Síndrome de Wobbler. Estes incluem fraturas da coluna vertebral, tumores da medula espinal, outras anomalias congênitas, distúrbios de coagulação, doenças metabólicas (como hipotireoidismo e síndrome de Cushing), meningite e até mesmo certas infecções parasitárias.
Diagnóstico
O diagnóstico é confirmado por meio de uma ressonância magnética para examinar a medula espinal e os discos entre as vértebras cervicais. Uma tomografia computadorizada pode então ser usada para examinar a forma dos ossos da coluna vertebral. Em alguns cães, exames complementares, como exames de sangue ou coleta de líquido espinal, podem ser indicados para ajudar a confirmar o diagnóstico.
Tratamento
O melhor tratamento para a Síndrome de Wobbler depende da causa e da gravidade do problema, bem como da duração suspeita da compressão da medula espinal. O seu neurocirurgião irá aconselhá-lo individualmente sobre o tratamento mais adequado para o seu cão.
Tratamento não cirúrgico
O manejo não cirúrgico pode permitir alguma estabilização da condição, pelo menos em curto prazo. É recomendado apenas para cães com patologia leve (pequenas protuberâncias no disco) e com progressão muito lenta da doença.
Os seguintes tratamentos não cirúrgicos são recomendados:
Exercício - repouso absoluto no curto prazo e exercício modificado no longo prazo.
Medicamentos anti-inflamatórios
Fisioterapia com terapias manipulativas, terapia a laser, terapia por ultrassom.
Hidroterapia
Tratamento cirúrgico
A maioria das técnicas cirúrgicas existentes visam descomprimir a medula espinal e estabilizar as vértebras cervicais.
A técnica será escolhida pelo neurocirurgião de acordo com cada caso individualmente de acordo com a localização da compressão medular, e se há ou não instabilidade associada.
As principais técnicas de descompressão incluem o slot ventral, a laminectomia dorsal, laminoplastia dorsal, e a hemilaminectomia.
Enquanto isso, as técnicas para estabilização/distração da coluna cervical podem ser realizadas com o uso de enxerto + pinos + cimento ósseo, uso de parafusos, espaçadores e placas. Atualmente há estudos relacionados a artroplastia do disco, através de um implante de disco na região afetada.
Fisioterapia
A reabilitação é extremamente importante para o seu cão, quer ele tenha sido tratado cirurgicamente ou esteja sob tratamento conservador. Ela permite o paciente a construa força, coordenação e equilíbrio.
Prognóstico
Para cães com síndrome de wobbler tratados cirurgicamente, há uma chance de 1 a 5% de complicações significativas relacionadas à cirurgia e aproximadamente 20% de recorrência.
Os cães tratados com medicamentos precisarão de tratamento pelo resto de suas vidas, e seus tratamentos mudarão à medida que os sintomas progridem. Aproximadamente 25% dos cães tratados sem cirurgia permanecerão estáveis.
Referências
Decker, Steven & Bhatti, Sofie & Gielen, Ingrid & Ham, LML. (2008). Diagnosis, treatment and prognosis of disc associated Wobbler syndrome in dogs. Vlaams Diergeneeskundig Tijdschrift. 77. 139-146.
FOSSUM, T.W. Cirurgia de pequenos animais, 4a ed. Elsevier, 2014.
Sobre o autor
Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972), especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades. Agende uma consulta pelo whatsapp (11)91258-5102.
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