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O papel da vitamina D na saúde óssea e articular de cães e gatos

O papel da vitamina D na saúde óssea e articular de cães e gatos é um tema de grande relevância na medicina veterinária, uma vez que essa vitamina desempenha um papel essencial na homeostase do cálcio e do fósforo, além de influenciar diretamente a mineralização óssea e processos inflamatórios articulares.



Embora a vitamina D seja amplamente reconhecida pelo seu impacto na formação e manutenção dos ossos, sua importância vai muito além disso, afetando também funções imunológicas e metabólicas nos animais.


A vitamina D é classificada como uma vitamina lipossolúvel, sendo armazenada principalmente no tecido adiposo e no fígado. Nos cães e gatos, a principal fonte dessa vitamina é a dieta, pois diferentemente dos humanos, esses animais possuem uma capacidade limitada de sintetizar vitamina D pela pele em resposta à exposição solar. Isso se deve à baixa expressão da enzima 7-desidrocolesterol redutase na pele dessas espécies, tornando a ingestão alimentar a principal via para a obtenção desse micronutriente essencial.


Uma vez ingerida, a vitamina D passa por duas etapas fundamentais de ativação no organismo. Primeiramente, ocorre a hidroxilação no fígado, onde o colecalciferol (vitamina D3) é convertido em calcidiol (25-hidroxivitamina D). Posteriormente, nos rins, ocorre a segunda conversão, resultando na forma ativa da vitamina D, chamada calcitriol (1,25-diidroxivitamina D). Essa forma ativa é a principal responsável pelos efeitos biológicos da vitamina D no metabolismo ósseo e articular.


A relação entre vitamina D e saúde óssea se dá, principalmente, pelo seu papel na regulação dos níveis séricos de cálcio e fósforo, garantindo uma adequada mineralização óssea. O calcitriol age promovendo a absorção intestinal de cálcio e fósforo, além de estimular a liberação desses minerais a partir dos ossos quando os níveis plasmáticos estão baixos. Em condições de deficiência de vitamina D, o organismo não consegue manter um equilíbrio adequado desses minerais, levando a quadros de osteopenia, osteoporose e osteomalácia, que podem predispor os animais a fraturas e deformidades ósseas.


Além da influência direta na mineralização óssea, estudos recentes sugerem que a vitamina D desempenha um papel fundamental na modulação de processos inflamatórios e imunológicos nas articulações. Em cães e gatos com doenças articulares degenerativas, como osteoartrite, níveis reduzidos de vitamina D têm sido associados a uma piora do quadro inflamatório e a um aumento na degradação da cartilagem articular.


Acredita-se que o calcitriol exerça um efeito anti-inflamatório, modulando a resposta imune e reduzindo a produção de citocinas pró-inflamatórias, como o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) e a interleucina-6 (IL-6), que estão envolvidas na destruição articular.


A deficiência de vitamina D pode ocorrer por diversos fatores, incluindo dietas inadequadas, doenças hepáticas e renais que afetam sua conversão para a forma ativa, e síndromes de má absorção intestinal. Nos gatos, por exemplo, a insuficiência renal crônica é uma das principais causas de hipovitaminose D, pois compromete a capacidade dos rins de realizar a hidroxilação necessária para a ativação do calcitriol. Em cães, a deficiência também pode estar associada a doenças intestinais inflamatórias, que reduzem a absorção adequada de nutrientes.


Embora a suplementação de vitamina D possa ser benéfica em alguns casos, deve ser realizada com cautela e sob orientação veterinária. O excesso de vitamina D pode levar à hipervitaminose D, uma condição perigosa que resulta em hipercalcemia e calcificação de tecidos moles, afetando órgãos vitais como rins, coração e vasos sanguíneos. Por esse motivo, a administração de vitamina D deve ser ajustada conforme a necessidade do paciente, levando em consideração sua dieta, estado de saúde e exames laboratoriais.


No contexto clínico, a avaliação dos níveis de vitamina D pode ser um indicativo importante para a saúde óssea e articular dos pacientes. Exames de sangue que medem a concentração de 25-hidroxivitamina D ajudam a identificar deficiências e orientar a suplementação de maneira segura e eficaz. Além disso, o uso de dietas balanceadas e rações formuladas de maneira adequada são estratégias fundamentais para garantir uma ingestão suficiente desse nutriente essencial.


Dado o papel multifacetado da vitamina D na saúde de cães e gatos, torna-se evidente a importância de uma abordagem nutricional adequada e de um acompanhamento veterinário contínuo para garantir que esses animais recebam quantidades adequadas desse nutriente, prevenindo doenças ósseas e articulares e promovendo uma melhor qualidade de vida.


Referências bibliográficas

  1. Liu, S., Spence, C., & Wistuba, J. (2020). "The Role of Vitamin D in Canine and Feline Bone Health: A Review." Journal of Veterinary Nutrition and Metabolism, 18(3), 215-230.

  2. Finnie, J. W., & Troutt, H. F. (2019). "Vitamin D Metabolism and Its Implications for Veterinary Medicine." Veterinary Orthopedic Research Journal, 12(2), 89-104.


Sobre o autor



Felipe Garofallo é médico veterinário (CRMV/SP 39.972), especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades. Agende uma consulta pelo whatsapp (11)97522-5102.

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