A miastenia gravis é uma doença onde há interrupção entre a comunicação nervosa com os músculos. É uma condição que afeta as junções neuromusculares.
Nessa doença, há uma diminuição no número de receptores nicotínicos funcionais de acetilcolina na membrana pós-sináptica.
Predisposição e classificação
A miastenia gravis pode ser congênita ou adquirida. Na forma congênita, o paciente nasce com junções neuromusculares anormais para músculos estriados esqueléticos.
Essa doença já foi relatada como recessiva em Jack Russell Terriers e alguns Spaniels.
Na forma adquirida, as junções neuromusculares são destruída como se fossem estranhas ao organismo. Não há predisposição racial para esses casos.
A forma adquirida pode ser ainda dividida em quatro grupos: focal (esôfago e face), generalizada (todos os músculos), fulminante (progressiva e fatal) e paraneoplásica (tumor no timo).
Sinais clínicos (sintomas)
Os sinais clínicos se concentram na fraqueza muscular, que pode afetar os olhos, músculos da face, esôfago (em cães) e os membros.
Em pacientes com miastenia gravis, ocorre fadiga precoce ao exercício e fraqueza muscular. Alterações como megaesôfago, mudança no som do latido, paralisia laríngea e ou disfagia podem estar presentes.
Diagnóstico
Teste AChR
Atualmente, existe um exame de sangue simples, embora não barato, que pode ser feito para verificar se há receptores de acetilcolina. Esse exame é capaz de detectar 98% dos animais com miastenia gravis.
A desvantagem desse teste é que ele só é conduzido em um laboratório, localizado na UC San Diego, e os resultados levam algumas semanas.
Teste de cloreto de edrofônio
Este teste envolve uma aplicação de uma injeção de cloreto de edrofônio por via intravenosa em um paciente com suspeita de miastenia gravis. O cloreto de edrofônio é um anticolinesterásico de ação curta.
A aplicação da medicação permite que a acetilcolina se acumule na junção neuromuscular, fortalecendo a mensagem do nervo para o músculo, e o cão apresenta uma melhora rápida, o que permite um diagnóstico mais rápido.
Radiografias de tórax
As radiografias ajudam a avaliar a presença de timoma. Em gatos com miastenia gravis, é esperado que um em cada quatro tenha uma massa no tórax na área do timo, por isso é extremamente importante a triagem de pacientes felinos.
Em cães, apenas cerca de 3-4% dos pacientes apresentam tumor nessa região. A radiografia de tórax também permite avaliar a presença de megaesôfago e pneumonia aspirativa.
Tratamento
A piridostigmina é o medicamento típico usado para prolongar a ação da acetilcolina. Ao inativar a acetilcolinesterase, os receptores que não foram destruídos pelo sistema imunológico podem se ligar a acetilcolina por mais tempo. A piridostigmina pode ser considerada uma versão de ação mais longa do cloreto de edrofônio.
O brometo de neostigmina também é um anticolinesterásico que pode ser usado, no entanto, a piridostigmina geralmente tem menos efeitos colaterais.
Como a maioria dos animais de estimação resolve sua miastenia gravis espontaneamente, o objetivo da terapia é controlar os sintomas até que isso aconteça.
Muitos pacientes caninos não precisam de nenhum tratamento adicional além de um desses medicamentos. Os gatos geralmente se saem melhor se a supressão imunológica for inclusa.
Imunossupressores
Os corticosteroides, como a prednisona e medicamentos semelhantes, podem suprimir a produção dos anticorpos que estão destruindo as junções neuromusculares.
Em geral, esses medicamentos são evitados, a menos que a terapia anticolinesterásica não produza resultados aceitáveis.
Outras drogas imunossupressoras mais fortes, como azatioprina , ciclosporina ou ciclofosfamida, são utilizados apenas se houver motivos pelos quais os corticosteroides não podem ser usados devido a diabetes mellitus, hipertensão, infecção concomitante (como pneumonia por aspiração).
Frequentemente, os pacientes caninos ficam mais fracos quando a terapia com esteróides é iniciada, por isso, uma dose inicial mais baixa é usada, aumentando gradualmente até uma dose imunossupressora. Os pacientes felinos geralmente começam com doses inicias mais altas.
Megaesôfago
No megaesôfago, o esôfago fica flácido e sem utilidade.
Os pacientes com essa condição regurgitam seus alimentos porque não conseguem mover os alimentos de maneira eficaz para o estômago.
Quando isso ocorre, há perda de peso, e os animais são predispostos a aspirar alimentos e saliva e, como resultado, desenvolver pneumonia especialmente intratável.
Cirurgia para remoção do timo
O timo, localizado no tórax, regride no filhote, pois está envolvido na maturação do sistema imunológico. Em humanos, tumores e crescimentos excessivos do timo frequentemente acompanham o desenvolvimento de miastenia gravis.
A timectomia (remoção da glândula timo) é uma parte bem aceita do tratamento para miastenia gravis em humanos, mas em cães e gatos, ela só deve ser feita se eles houver um tumor no timo.
A timectomia é uma cirurgia torácica altamente invasiva. Se o tumor puder ser completamente removido, a miastenia gravis deve ser resolvida e o teste de sangue para anticorpos pode ser usado para determinar se a remoção completa.
Se o tumor não puder ser totalmente removido, será necessário continuar o tratamento.
Prognóstico
Com a detecção precoce e o tratamento adequado, espera-se que o tratamento produza uma resposta positiva com qualidade e expectativa de vida normal.
Como as dificuldades de deglutição e a regurgitação geralmente estão incluídas no quadro clínico, pode ocorrer pneumonia resultante da inalação acidental de saliva, comida ou vômito, piorando o prognóstico do paciente.
Ao contrário dos humanos com miastenia gravis, a maioria dos pacientes animais curará espontaneamente e o prognóstico é bom se eles sobreviverem ao mês inicial, quando a fraqueza é mais severa e o risco de pneumonia por aspiração é maior.
O tutor deve estar preparado para tratar o paciente por um longo prazo (ou seja, anos), embora períodos de tratamento apenas alguns meses não sejam incomuns.
Referências bibliográficas
1. Gadêlha, Kamylla & Oliveira, Ilanna & Macêdo, Luã & Pimentel, Muriel & Barbosa Calado, Eraldo & Tinucci-Costa, Mirela & Filgueira, Kilder. (2015). Myasthenia gravis canine: A differential diagnosis for infectious diseases of origin neurological. Revista Brasileira de Higiene e Sanidade Animal. 9. 10.5935/1981-2965.20150060.
2. Fraser, D & Palmer, Anthony & Senior, J. & Parkes, J & Yealland, M.. (1970). Myasthenia gravis in the dog. Journal of neurology, neurosurgery, and psychiatry. 33. 431-7. 10.1136/jnnp.33.4.431.
Sobre o autor
Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972), especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades. Agende uma consulta ou consultoria on-line pelo whatsapp (11)91258-5102.
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