É comum que os cães apresentem sinais de claudicação após atividades físicas intensas, e isso pode ser um indicativo de lesões subjacentes que merecem atenção. Os tutores, muitas vezes, se preocupam ao ver seus animais de estimação mancando após um período de exercício, especialmente se o cão normalmente é ativo e saudável. Compreender as possíveis causas desse comportamento e saber como prevenir tais lesões pode ajudar a garantir a saúde e o bem-estar dos cães a longo prazo.
Uma das causas mais frequentes de claudicação após o exercício é a lesão muscular. Assim como nos humanos, os músculos dos cães podem sofrer estiramentos ou rupturas durante atividades físicas vigorosas. Estes tipos de lesões geralmente ocorrem quando o animal se envolve em exercícios intensos sem o preparo físico adequado ou em superfícies irregulares. Além disso, cães que realizam movimentos bruscos e repentinos, como mudanças rápidas de direção durante uma corrida, estão particularmente suscetíveis a essas lesões. Os sintomas incluem claudicação, sensibilidade ao toque e, em casos mais graves, inchaço na área afetada.
Outra causa comum é a lesão ligamentar, com destaque para a ruptura do ligamento cruzado cranial (LCC), que é uma das lesões ortopédicas mais comuns em cães. Essa condição é mais frequente em raças de porte médio a grande e em cães com excesso de peso. A ruptura do LCC pode ocorrer de forma aguda, durante uma corrida ou salto, ou pode ser resultado de uma degeneração gradual do ligamento. Cães com essa lesão apresentam claudicação significativa, dor e, frequentemente, recusa em apoiar a pata afetada no chão. O tratamento geralmente envolve cirurgia, seguida de um período de reabilitação intensiva.
Lesões articulares também são uma preocupação relevante, especialmente em cães de raças predispostas a problemas ortopédicos, como displasia coxofemoral ou luxação de patela. A displasia coxofemoral é uma condição genética que afeta a articulação do quadril, resultando em um encaixe inadequado da cabeça do fêmur na cavidade acetabular. Cães com essa condição podem apresentar claudicação após o exercício, especialmente quando o desgaste da articulação se agrava com a idade. Já a luxação de patela ocorre quando a rótula se desloca de sua posição normal, causando dor e claudicação. Ambos os casos podem exigir intervenção cirúrgica, dependendo da gravidade.
Além dessas lesões mais comuns, fraturas ósseas, embora menos frequentes, também podem causar claudicação pós-exercício. Fraturas de stress, que são pequenas fissuras nos ossos causadas por impactos repetitivos ou por traumas agudos, podem se desenvolver em cães que praticam atividades físicas intensas sem o devido condicionamento. Essas fraturas são dolorosas e, sem tratamento adequado, podem evoluir para fraturas completas, exigindo imobilização ou cirurgia.
Para prevenir essas lesões, é essencial que os tutores adotem algumas práticas. Primeiro, é importante garantir que o cão esteja adequadamente condicionado para o tipo de exercício que ele realizará. Aumentar gradualmente a intensidade e a duração das atividades físicas permite que os músculos, ligamentos e articulações se adaptem ao esforço, reduzindo o risco de lesões. Além disso, manter o peso corporal do cão dentro de uma faixa saudável é crucial para minimizar a sobrecarga nas articulações e ligamentos, especialmente em raças predispostas a problemas ortopédicos.
Outra medida preventiva é garantir que o cão faça exercícios em superfícies adequadas. Terrenos irregulares, escorregadios ou muito duros podem aumentar o risco de lesões. Por isso, é preferível optar por superfícies planas e com boa aderência, como gramados ou pistas de corrida. Além disso, o aquecimento antes de atividades físicas intensas pode ajudar a preparar os músculos e articulações do cão para o exercício, reduzindo a probabilidade de estiramentos e rupturas.
Em casos onde a claudicação persiste após o exercício, é fundamental procurar orientação veterinária para um diagnóstico preciso e tratamento adequado. Ignorar os sinais de dor e claudicação pode agravar a condição e levar a complicações mais sérias, como artrose e perda permanente da função articular.
Em resumo, a claudicação em cães após o exercício é um sinal que não deve ser subestimado, pois pode indicar desde lesões musculares leves até problemas ortopédicos graves. A prevenção dessas lesões passa por um bom condicionamento físico, controle de peso, escolha de superfícies adequadas para o exercício e, quando necessário, intervenções cirúrgicas. Cuidar bem da saúde ortopédica dos cães é essencial para garantir que eles possam se manter ativos e felizes por muitos anos.
Referências bibliográficas
Fossum, T. W. (2019). *Small Animal Surgery*. Elsevier Health Sciences.
Houlton, J. E. F., & Pead, M. J. (2018). *Manual of Small Animal Orthopaedics and Fracture Repair*. BSAVA.
Sobre o autor
Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972), especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades. Agende uma consulta presencial pelo whatsapp (11)91258-5102 ou uma consultoria on-line por vídeo.
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