Técnicas cirúrgicas para cães com ruptura do ligamento cruzado cranial
- Felipe Garofallo
- 14 de jul. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 17 de fev.
A cirurgias para ruptura de ligamento cruzado em cães é uma área de grande importância e contínuo desenvolvimento na ortopedia veterinária.

O ligamento cruzado cranial (LCC) é uma estrutura chave no joelho dos cães, responsável pela estabilidade articular e prevenção de movimentos anômalos entre o fêmur e a tíbia. A ruptura deste ligamento é uma condição comum que causa dor, claudicação e pode levar à osteoartrite se não tratada adequadamente. Existem várias técnicas cirúrgicas estabelecidas para o reparo do LCC em cães, cada uma com suas indicações, vantagens e desvantagens.
A técnica de estabilização extracapsular, frequentemente chamada de técnica de sutura fabelo-tibial, é uma das mais utilizadas, especialmente em cães de pequeno e médio porte.
Esta técnica envolve a colocação de uma sutura não absorvível ao redor da articulação do joelho para imitar a função do LCC rompido. A sutura é passada através de uma âncora óssea ou ao redor de estruturas anatômicas para estabilizar a articulação durante a cicatrização. Esta abordagem é relativamente simples, menos invasiva e tem uma recuperação pós-operatória mais rápida, sendo ideal para cães menores e menos ativos.
Outra técnica popular é a osteotomia de nivelamento do platô tibial (TPLO), introduzida por Slocum na década de 1990. A TPLO modifica a biomecânica do joelho, alterando o ângulo do platô tibial para reduzir a necessidade do LCC na estabilização articular. Este procedimento envolve o corte da tíbia e a rotação do platô tibial até um ângulo pré-determinado, seguido da fixação com uma placa óssea.
A TPLO é particularmente eficaz em cães grandes e ativos, proporcionando uma estabilização mais robusta e permitindo um retorno mais rápido à função normal. Estudos mostram que cães tratados com TPLO têm menor incidência de osteoartrite a longo prazo comparado com outras técnicas.
A técnica de avanço da tuberosidade tibial (TTA) é outra opção. Introduzida por Montavon et al. em 2002, a TTA também modifica a biomecânica do joelho, avançando a tuberosidade tibial para alterar as forças atuantes na articulação. O procedimento envolve o corte e a movimentação da tuberosidade tibial para frente, fixando-a com um espaçador (cage) e uma placa óssea. A TTA é comparável à TPLO em termos de eficácia e também é indicada para cães grandes e ativos.
A escolha da técnica ideal depende de vários fatores, incluindo o tamanho do cão, nível de atividade, idade, estado de saúde geral e a experiência do cirurgião.
Embora a TPLO e a TTA ofereçam resultados excelentes, ambas requerem habilidades cirúrgicas avançadas e equipamentos específicos, o que pode limitar sua disponibilidade e aumentar os custos. A estabilização extracapsular, por outro lado, continua a ser uma opção válida para cães menores e menos ativos, além de ser mais acessível economicamente.
Em termos de prognóstico, estudos demonstram que a maioria dos cães submetidos a qualquer uma dessas técnicas recupera bem e retorna a um nível funcional satisfatório. A reabilitação pós-operatória, incluindo fisioterapia, é crucial para a recuperação e deve ser adaptada a cada paciente para maximizar os resultados e minimizar complicações.
Em conclusão, enquanto várias técnicas estão disponíveis para o reparo do LCC em cães, a escolha da técnica ideal deve ser personalizada de acordo com as características individuais do paciente.
A TPLO e a TTA são altamente eficazes para cães grandes e ativos, enquanto a estabilização extracapsular continua sendo uma boa escolha para cães menores e menos ativos. A evolução contínua das técnicas cirúrgicas e o aprimoramento das práticas de reabilitação prometem melhorar ainda mais os resultados para os pacientes caninos.
Referências bibliográficas
1. Slocum, B., & Slocum, T. D. (1993). Tibial plateau leveling osteotomy for cranial cruciate ligament rupture in the canine. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, 23(4), 777-795.
2. Montavon, P. M., Damur, D. M., & Tepic, S. (2002). Advancement of the tibial tuberosity for the treatment of cranial cruciate deficient canine stifle. In Proceedings of the 1st World Orthopaedic Veterinary Congress, Munich, Germany.
3. Conzemius, M. G., Evans, R. B., Besancon, M. F., & Gordon, W. J. (2005). Effect of surgical technique on limb function after surgery for rupture of the cranial cruciate ligament in dogs. Journal of the American Veterinary Medical Association, 226(2), 232-236.
4. Fitzpatrick, N., & Solano, M. A. (2010). Predictive variables for complications after TPLO with stifle inspection by arthrotomy in 1000 consecutive dogs. Veterinary Surgery, 39(4), 460-474.
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Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico veterinário (CRMV/SP 39.972), especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades. Agende uma consulta pelo whatsapp (11)97522-5102.
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