O divertículo aracnoide é uma condição relativamente rara em cães, caracterizada pela formação de um cisto ou saco preenchido com líquido cerebroespinhal (LCE) que se desenvolve na membrana aracnoide, uma das três meninges que envolvem e protegem o cérebro e a medula espinhal. Este tipo de cisto pode ocorrer em qualquer parte do sistema nervoso central, mas é mais comumente encontrado na região da coluna vertebral.
Os divertículos aracnoides são considerados anomalias congênitas, embora possam também se desenvolver secundariamente a traumatismos, inflamações ou infecções. Nos cães, a maioria dos casos relatados ocorre em raças pequenas e braquicefálicas, como o Pug, o Bulldog Francês e o Yorkshire Terrier, sugerindo uma predisposição genética para o desenvolvimento desses cistos. No entanto, cães de qualquer raça e idade podem ser afetados.
Os sinais clínicos de um divertículo aracnoide variam dependendo da localização e do tamanho do cisto. Quando localizado na coluna vertebral, os sintomas mais comuns incluem dor, claudicação, fraqueza dos membros e, em casos graves, paralisia. Estes sinais resultam da compressão da medula espinhal ou das raízes nervosas pelo cisto em expansão. Em casos raros, os cistos podem se formar no cérebro, levando a sinais neurológicos como convulsões, alterações comportamentais e déficits cognitivos.
O diagnóstico de um divertículo aracnoide geralmente começa com uma história clínica detalhada e um exame neurológico completo. A imagiologia avançada é essencial para a confirmação do diagnóstico. A ressonância magnética (RM) é a ferramenta de escolha para visualizar cistos aracnoides, pois fornece imagens detalhadas da medula espinhal e das estruturas circundantes. A tomografia computadorizada (TC) também pode ser utilizada, mas é menos eficaz na diferenciação dos cistos aracnoides de outras lesões intradurais.
Uma vez diagnosticado, o tratamento de um divertículo aracnoide pode ser desafiador. Em casos leves, onde os sintomas são mínimos e não progressivos, o manejo conservador com analgesia e monitorização regular pode ser suficiente. No entanto, em casos mais graves, a intervenção cirúrgica pode ser necessária. A cirurgia envolve a descompressão da medula espinhal e a remoção do cisto, se possível. Em alguns casos, a colocação de um shunt para drenar o líquido do cisto para outra parte do corpo, como a cavidade abdominal, pode ser realizada.
O prognóstico para cães com divertículo aracnoide é variável e depende de vários fatores, incluindo a localização e o tamanho do cisto, a gravidade dos sinais clínicos e a resposta ao tratamento. Em geral, cães submetidos a tratamento cirúrgico têm um prognóstico melhor do que aqueles manejados conservadoramente. No entanto, a recorrência dos cistos pode ocorrer, necessitando de intervenções adicionais.
A prevenção de divertículos aracnoides é difícil, dada a natureza congênita ou idiopática da maioria dos casos. No entanto, a identificação precoce e o tratamento adequado são cruciais para melhorar a qualidade de vida dos cães afetados. O manejo contínuo e o monitoramento regular são essenciais para detectar qualquer recorrência ou progressão dos sinais clínicos.
Referências bibliográficas
1. Dewey, C. W., & da Costa, R. C. (2015). **Practical Guide to Canine and Feline Neurology** (3rd ed.). Wiley-Blackwell.
2. Platt, S. R., & Olby, N. J. (2013). **BSAVA Manual of Canine and Feline Neurology** (4th ed.). BSAVA.
Sobre o autor
Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972), especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades. Agende uma consulta presencial pelo whatsapp (11)91258-5102 ou uma consultoria on-line por vídeo.
Commentaires